Defensores do Escola Sem Partido reclamam que estão sendo “oprimidos”. Uma grande mentira. Por Luis Felipe Miguel

Atualizado em 3 de julho de 2019 às 11:48
Sala de aula. Foto: EBC

Publicado originalmente no perfil de Facebook do autor

POR LUIS FELIPE MIGUEL

Leio no jornal que hoje professores bolsonaristas lançam sua associação, liderados por um colega aqui da UnB, um elitista agressivo que se tornou folclórico no campus.

Esses defensores do Escola Sem Partido reclamam que estão sendo “oprimidos” nas universidades. Trata-se, para dizer bem diretamente, de uma grande mentira.

Professores de direita dão sua aulas, são aprovados em concursos, ganham financiamento para suas pesquisas, publicam seus papers, progridem nas carreiras.

Fazem política universitária, disputam associações docentes, direções acadêmicas, reitorias. Às vezes até ganham. Às vezes são nomeados mesmo perdendo, o que, reconheçamos, não ajuda a angariar simpatias.

Parece que os que eles querem é fazer proselitismo sem enfrentar oposição. São “oprimidos” porque, cada vez que lançam um discurso reacionário, surge uma voz de esquerda para rebatê-los.

Mas isso não é opressão, isso é o debate livre que é preciso haver na universidade.

Em alguns espaços, como nas ciências sociais, os direitistas são mesmo minoria. Não é por acaso: a ciência social nasceu como esforço de desnaturalização do mundo social, o que leva à contestação das hierarquias e desigualdades. É o oposto do projeto da direita.

Ainda assim, temos nossa cota de reaças. E o discurso ingênuo da “neutralidade”, que infelizmente está tão presente em alguns ambientes, prejudica mais quem está à esquerda.

Na Ciência Política, da qual posso falar com mais propriedade, um artigo com referencial marxista certamente enfrenta mais resistência do que outro, com referencial liberal.

Na reportagem, o chefe do movimento diz que eles não vão se denominar “de direita”, termo que “tem uma conotação ruim”. O nome fantasia será “Docentes pela Liberdade”.

Eu me pergunto se, tal como seu pendant entre os estudantes, eles ganharão dinheiro da Atlas Foundation.

Mas me incomoda o jeito como grupos com práticas absurdamente autoritárias, agora na defesa de um governo com uma indiscutível catinga fascistoide, se apropriam da palavra “liberdade”.

“Liberdade” com Biroliro. “Liberdade” com Escola Sem Partido. “Liberdade” com capitalismo, racismo, sexismo e homofobia.

O discurso é todo baseado na falsa ideia de que a igualdade é o oposto da liberdade. Temos que ter clareza que não é.

Liberdade é, sempre foi, uma bandeira – a maior bandeira – da esquerda.