Defensoria Pública é impedida de acessar perícias após massacre no Rio

Atualizado em 30 de outubro de 2025 às 12:41
Corpos enfileirados em praça na Penha, zona norte do Rio. Foto: Eduardo Anizelli/Folhapress

A Defensoria Pública do Rio de Janeiro afirmou nesta quinta (30) que foi impedida de acompanhar as perícias nos corpos recolhidos após a operação nos complexos do Alemão e da Penha, que deixou 121 mortos. Segundo o órgão, o pedido de ingresso no Instituto Médico Legal (IML) foi negado, apesar de atuar oficialmente na ADPF das Favelas, sob determinação do Supremo Tribunal Federal (STF).

A Polícia Civil informou que o acesso ao IML está restrito a agentes da corporação e a membros do Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ). “Queremos entender as circunstâncias dessas mortes, gostaríamos de acompanhar. Ao Ministério Público a entrada foi oportunizada e à Defensoria não foi permitido o ingresso”, afirmou a defensora pública Rafaela Garcez.

De acordo com a Defensoria, houve contato prévio com a Secretaria de Segurança Pública para garantir a entrada, mas o órgão foi informado de que os nomes dos representantes deveriam constar em uma lista pré-aprovada. Diante da negativa, a instituição anunciou que deve recorrer à Justiça ainda nesta quinta-feira para ter acesso ao procedimento pericial.

“O ingresso é pedido pela singularidade da operação”, destacou Rafaela. Já o subcoordenador criminal da Defensoria, Emerson Betta, reforçou que o órgão integra o comitê de monitoramento da ADPF 635. “Viemos aqui hoje enfatizando que a Defensoria está na ADPF, inclusive fazendo parte do comitê de monitoramento. Tendo em vista a singularidade dessa operação, nós pedimos acesso em paridade com a outra parte, o Ministério Público”, afirmou.

Corpos enfileirados em rua do Rio de Janeiro após operação policial mais letal da história da cidade. Foto: Ricardo Moraes/Reuters

Segundo dados da própria Defensoria, 106 familiares foram atendidos na quarta (29) em busca de informações sobre os corpos. O IML informou que até a manhã desta quinta já haviam sido realizadas 80 necropsias, mais da metade do total. Seis corpos haviam sido liberados até a noite anterior, mas a polícia ainda não divulgou quantos foram oficialmente identificados.

Um posto do Detran, localizado ao lado do IML, foi adaptado como ponto de triagem para o atendimento das famílias. No local, parentes preenchem cadastros com dados pessoais e recebem uma senha para realizar o reconhecimento. A estrutura, segundo relatos, tem enfrentado filas e longas esperas.

O IML central, no centro do Rio, ficou encarregado de receber exclusivamente os corpos da operação. Casos sem relação com a ação policial foram transferidos para o IML de Niterói. A Secretaria de Segurança Pública e a Polícia Civil ainda não se manifestaram sobre o pedido formal de acesso da Defensoria.

Caique Lima
Caique Lima, 27. Jornalista do DCM desde 2019 e amante de futebol.