
Não, Brasília. Não faça isso comigo.
Eu cheguei aqui ontem e estava tudo tão bonito. Hoje está tão feio.
Eu entendo o espírito festivo dos brasileiros. Está estampado no nosso carnaval. Nós gostamos de nos enfeitar. Cores, penas, máscaras.
E não é um problema propriamente dito. Quem gosta de máscara que use. Mas que saiba que da oportunidade de mostrar uma bela máscara, perde-se a oportunidade de mostrar um belo rosto.
E quando digo belo, é belo por mais feio que seja do ponto de vista estético. O belo é mostrar quem você é e o que você tem para mostrar, quer isso agrade ou não.
Mas isso não se aplica a você, Brasília, que é uma das cidades mais lindas do mundo. Tenho pensado ultimamente sobre isso. Eu não conheço tantas cidades assim, mas conheço o Rio de Janeiro e conheço Paris, duas das cidades-referência em beleza. E para mim, Brasília é mais. A mais linda do mundo, entre todas que conheço.
Em beleza, porque o funcionamento ainda é muito difícil para mim, um paulistano. Me habituei com uma cidade em que sua vida pode mudar num quarteirão, e gosto muito disso. Aqui, você tem que andar, e andar e andar.
Mas tudo bem. Temos nossas diferenças e te amo mesmo assim.
Só que hoje você escondeu seu rosto. Se pintou com as cores da nossa bandeira – que é bonita, não me entenda mal. Mas não é a sua cor.
Converso com um grupo de jovens no mesmo hotel em que me hospedo. Vieram de São Paulo e estão em Brasília pela primeira vez. Entendo a dificuldade em compreender a cidade e argumento – mas vejam como é linda.
Eles me olham torto. E com razão.
É linda. Mas não está linda, e para quem acabou de conhecer, é assim que ela é.
Quem não te conhece vestida de luz, Brasília, não vai entender sua beleza vestida de verde-amarelo. Deixe o verde-amarelo para a torcida. Você é mais que isso. Você é a cidade mais linda do mundo.
Com amor,
Do tio Ruivo
