Delator morto em Guarulhos denunciou esquema de proteção ao PCC na polícia de SP

Atualizado em 11 de novembro de 2024 às 21:55
empresário Antônio Vinícius Lopes Gritzbach de perfil, sério, de camisa social azul
O empresário Antônio Vinícius Lopes Gritzbach, morto na semana passada – Reprodução

Em delação premiada, o empresário Antônio Vinícius Lopes Gritzbach revelou um suposto esquema de corrupção que envolve policiais de departamentos e delegacias da Polícia Civil em São Paulo. Ele afirmou que investigações foram manipuladas para proteger membros do Primeiro Comando da Capital (PCC) mediante o pagamento de propinas, que incluíram dinheiro e transferências de propriedades.

Segundo o Estadão, o caso gerou a abertura de inquéritos pela Corregedoria da Polícia Civil e o afastamento dos policiais citados. A delação de Gritzbach, homologada na 1.ª Vara de Crimes Tributários e Lavagem de Dinheiro da Capital, está dividida em seis anexos, com o Anexo 6 sendo focado nas denúncias de corrupção policial.

De acordo com o empresário, agentes do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic), do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) e das delegacias de Ermelino Matarazzo (24º DP) e Tatuapé (30º DP) teriam se beneficiado de propinas para manipular inquéritos em favor de membros do PCC.

Em um áudio de cerca de cinco minutos anexado à delação, um investigador do Departamento de Narcóticos (Denarc) conversa com o advogado Ahmed Hassan, conhecido como Mude, apontado como um dos integrantes da cúpula do PCC. No áudio, Mude negocia o aumento do pagamento pela execução de Gritzbach.

Antônio Vinícius Lopes Gritzbach morto no chão, em segundo plano, com carro da polícia em primeiro plano
Cena do crime no Aeroporto de Guarulhos – Reprodução

Investigações e repercussões

O secretário da Segurança Pública, Guilherme Derrite, anunciou o afastamento dos policiais citados e declarou que não tolerará desvios de conduta na corporação. Já o delegado-geral da Polícia Civil, Artur Dian, comprometeu-se a aprofundar as investigações, que já levaram à abertura de três inquéritos.

Além das acusações de corrupção, Gritzbach detalha situações de lavagem de dinheiro e investimentos do PCC em imóveis e criptomoedas. Ele próprio teria participado de operações financeiras para o crime organizado, mas negou envolvimento nos homicídios de Anselmo Becheli Santa Fausta, o “Cara Preta”, e de Antonio Corona Neto, o “Sem Sangue”, líderes da facção. Esses assassinatos também são alvo das investigações.

Contexto das acusações

Gritzbach trabalhou na construtora Porte Engenharia, onde conheceu membros do PCC e facilitou investimentos em imóveis para lavar dinheiro do tráfico de drogas. Após perder milhões em negociações de criptomoedas, “Cara Preta” teria ameaçado o empresário, o que pode ter motivado os desentendimentos entre eles.

A denúncia de Gritzbach revelou ainda que, após o assassinato de “Cara Preta”, o suspeito de lavagem de dinheiro Robinson Granger, conhecido como “Molly”, teria ocultado provas no apartamento da vítima. Contudo, o inquérito, segundo o delator, omitiu esses detalhes, possivelmente em razão de acordos ilícitos com policiais.

A Corregedoria e o Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado (Gaeco) seguem investigando as denúncias de Gritzbach. As provas apresentadas incluem gravações e documentos que indicam a possível participação de outros integrantes do PCC.

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