Delegada da PF recoloca os pingos nos “is” nas conversas de Machado. Por Mauro Santayana

Atualizado em 28 de julho de 2017 às 9:35

PUBLICADO NO BLOG DE MAURO SANTAYANA

Independentemente da simpatia (ou da antipatia) de cada um por Renan Calheiros, Romero Jucá e José Sarney, que, como qualquer homem público, contam com apoiadores e com adversários em Brasília e em seus respectivos estados, não há outra coisa a fazer, para quem defende a democracia no Brasil, a não ser comemorar a decisão – corretíssima – da delegada da Polícia Federal Graziela da Costa e Silva, de descaracterizar a acusação de tentativa de “obstrução de justiça” que pesava contra eles, no contexto de gravações telefônicas premeditadamente feitas por Sérgio Machado, com a intenção de fazer jus a “delação premiada”.

Como já dissemos aqui, a Operação Lava-Jato tem sido tratada, pelos membros de sua Força-Tarefa, por boa parte de procuradores e juízes e delegados da Polícia Federal – muitas vezes por meio de suas associações de classe – e por podeosos segmentos da mídia, como um inatacável e impoluto tabu, uma espécie de vaca sagrada que merecesse uma estátua em cada esquina, e tivesse o dom de transformar automaticamente em leproso, bandido ou corrupto qualquer um que ousasse – como ocorre com Lula, por exemplo – criticá-la.

Quando, na verdade, trata-se de uma iniciativa com nefastas consequencias políticas e econômicas, que:

– abriu caminho para a defesa do golpe de 2016 junto à opinião pública.

– Cresceu com a desestabilização do equilíbrio institucional necessário à governabilidade e ao exercício normal da democracia.

– Promoveu, direta e indiretamernte, a destruição da engenharia brasileira e de nossas maiores empresas, dentro e fora do país, com a interrupção e o sucateamento de dezenas de projetos e programas estratégicos nas áreas de petróleo e gás, infraestrutura e defesa, no valor de dezenas de bilhões de dólares.

– Quebrou milhares de acionistas, investidores e fornecedores ligados a essas empresas e levou à demissão de milhares de trabalhadores nos últimos três anos.

– Com a criminalização permanente da política, está ajudando a abrir espaço para o fascismo, levando pela primeira vez na história uma candidatura de extrema-direita a se tornar viável, senão favorita, para as próximas eleições presidenciais.

Quem aceita que Sarney, Renan e Jucá cometeram crime ao criticar a Operação Lava-Jato e até mesmo ao discutir sua eventual interrupção ou descontinuidade, reconhece, ingênua, hipocrita ou seletivamente, nela, algum ganho, quando não houve quase nenhum, quando comparado às perdas que acarretou para o país e para a sociedade brasileira.

Corruptos comprovados estão em sua maioria soltos, o país encontra-se inerme frente a seus concorrentes externos, levaremos uma geração para sair do buraco em que nos metemos – também graças às “reformas” e PECS do governo Temer – estrategicamente.

E corrobora indiretamente teses e desmandos moronianos, como o que acusou Dilma do mesmo crime de “obstrução de justiça”, quando tentou nomear para a Casa Civil Luís Inácio da Silva e foi inconstitucionalmente grampeada junto com o ex-presidente, com imediato vazamento do conteúdo da conversa – quem não se lembra do aproveitamento do “tchau, querida” por seus adversários? – para certos meios de comunicação.
Ao confabular com Sérgio Machado pelo telefone, Sarney, Jucá e Calheiros estavam fazendo – como reconheceu, recolocando os pingos no is, a delegada Graziela Costa e Silva – política, como fazem, ou deveriam fazer, livremente, a qualquer momento, deputados e senadores – eleitos por milhares de votos – de qualquer partido.

E como não deveriam fazer procuradores e juízes que, além de se dedicar mais do que deveriam ou poderiam, a essa atividade, ilegalmente, dão entrevistas – como se fossem autoridades de primeiro escalão – para câmeras “aliadas” de televisão, ou fazem palestras eventualmente pagas por instituições “apoiadoras”, para um público simpatizante ou manipulado, dentro e fora do Brasil.

Isso, quando não organizam eventos, sobre Segurança Pública e “Bandidolatria”, com a presença do Procurador Geral do Estado e de juízes de tribunais superiores cariocas, como está fazendo o Ministério Público do Rio de Janeiro – em fato muitíssimo mais grave, politicamente – com a presença, como palestrante e um dos convidados de honra, do “líder” de um movimento neofascista como o MBL , o “senhor” Kim Kataguiri.