Demissão de Maynard sinaliza debandada dos generais do governo Bolsonaro. Por José Cássio

Atualizado em 5 de novembro de 2019 às 14:59
Bolsonaro e o general Maynard: quem quer ter seu nome atrelado a um presidente cujo nome está relacionado ao assassinato de uma parlamentar? (Imagem: reprodução)

As especulações oficias dão conta de que o pedido para sair é decorrência de boicote imposto pelo ministro Jorge Oliveira, da Secretaria-Geral da Presidência, do qual era subordinado.

Extra-oficiamente, a versão é outra: o general Maynard Marques de Santa Rosa pediu demissão da chefia da Secretaria de Assuntos Estratégicos, nesta segunda-feira, 4, junto com outros três militares, por causa dos sucessivos escândalos envolvendo Bolsonaro e filhos.

Sinaliza que militares que não pertencem ao ‘núcleo duro’ do clã estão incomodados e que a porta está aberta para uma debandada geral.

O ambiente de crise transpareceu de vez no final da tarde quando o porta-voz da Presidência, Otávio do Rêgo Barros, fechou a cara ao ser perguntado sobre o motivo da saída e disse que a questão deveria ser feita diretamente ao general, “uma vez que a exoneração se deu a pedido dele”.

Por que Santa Rosa pediria demissão se compactua com propostas centrais de Bolsonaro?

Sempre foi um crítico mordaz da Comissão da Verdade. Planejava um decreto para a criação de um programa de desenvolvimento da Amazônia e defendia com fervor a construção de uma usina hidrelétrica no Rio Trombetas, na cidade Oriximiná, no estado do Pará.

O general também defende que a tese do aquecimento global é uma mentira cientificamente comprovada e diz que o problema dos negros foi resolvido com a Lei Áurea.

Um bolsonarista clássico que sai pisando em ovos naquele que talvez seja o momento mais difícil do governo, com o presidente acuado por suspeita de participação na morte de Marielle, o filho Flávio tentando se esquivar do escândalo do caso Queiroz e Eduardo fazendo ginástica para se livrar da cassação após defender a volta do AI-5.

Bolsonaro agora está entregue a um pequeno grupo que envolve os filhos e gente como Jorge Oliveira, chefe da Secretaria-Geral e que vem a ser filho do capitão do Exército Jorge Francisco, morto em abril de 2018 e que por 20 anos atuou como seu chefe de gabinete na Câmara, além de ter exercido a mesma função no gabinete de Eduardo Bolsonaro (PSL-SP).

Neste momento, a paranoia que persegue a família é o medo de traição.

A que persegue gente como Maynard Marques de Santa Rosa e os três generais que saíram com ele é ter o nome envolvido em um caso assombroso de assassinato de uma parlamentar e de, entre outras coisas, desviar dinheiro público através de uma rede de funcionários fantasmas comandada por um miliciano.

Os próximos dias vão trazer as respostas para essas e outras questões.

Uma coisa, no entanto, é certa: a demissão de forma tão abrupta de quatro generais sinaliza que os Bolsonaros já não inspiram tanta confiança.