Demissões na BR Distribuidora: “De uma hora para outra, tudo se desfaz como um castelo de areia”, diz ex-funcionária

Atualizado em 22 de janeiro de 2020 às 12:05
Em 2018, antes da administração de Bolsonaro e Paulo Guedes, funcionários deram um abraço simbólico na empresa. Foto: Sintramico.

Por André Lobão

Não bastasse o Programa de Demissão Optativa (PDO) que recebeu 1.181 inscrições, a direção da BR Distribuidora, recentemente privatizada, já efetivou no período de dezembro e neste mês de janeiro a demissão de mais de 600 empregados concursados.

Se o PDO possibilitou uma maior indenização financeira (75% de salário mensal por ano trabalhado) e extensão de alguns benefícios como  por tempo determinado, como o plano de saúde, quem foi sumariamente demitido não terá qualquer beneficio.

“Desde 17 de dezembro estou sem AMS (plano de saúde), não tive direito nem a uma relocação na empresa através do Mobiliza. Entrei na BR Distribuidora através de concurso público em 2007, tendo sido antes uma trabalhadora terceirizada, convivendo com a rotina de demissão ao final dos contratos. Aí você faz um concurso, vai atrás de um sonho, conquista esse sonho… E agora? De uma hora para outra tudo se desfaz com um castelo de areia. Tenho três filhas, sendo duas crianças e uma adolescente, tendo a responsabilidade de ser arrimo de família, já que não possuo um companheiro. A principio você faz um concurso público numa empresa do sistema Petrobrás para não ter esse tipo de situação, e depois vê sua vida virar de ponta-cabeça ao ganhar uma rasteira após anos de dedicação com as melhores avaliações, GDR e tal. Eu me sinto lesada, a empresa não teve respeito por nenhum profissional. Eu tenho que pagar aluguel, não tenho casa própria.” – conta uma demitida da empresa que não quis se identificar.

Gerentes predatórios

O atual presidente da empresa, Rafael Grisolia, determinou que cada gerente escolhesse quem poderia continuar na BR Distribuidora. Nossa entrevistada revela que todo esse processo demissional mostra uma face perversa dos gerentes e como usam um sistema de proteção aos seus “amigos”.

“Até hoje, não sei o porquê da minha demissão, não tive ao longo da minha carreira na empresa qualquer tipo de advertência, meu GDR sempre atingiu os maiores índices. Um dia chega um gerente novo no seu setor e diz simplesmente que não conta comigo para nada, como se faz numa situação dessas após anos de trabalho? O pior é ver pessoas que não tinham comprometimento algum com a empresa que continuam lá, que critério é esse?” – indaga.

Dentre esses mais de 600 demitidos, existem vários trabalhadores que se aposentariam em 2021. Outra denúncia é de que os trabalhadores que não aderiram ao PDO e querem permanecer na empresa estão sendo pressionados a fazer acordo individual, com desvantagens que ultrapassam até mesmo os limites da Reforma Trabalhista. Uma repactuação dos contratos de trabalho está, segundo denúncias dos trabalhadores, sendo feita, também à revelia do Sitramico-RJ (Sindicato que representa os trabalhadores da BR Distribuidora).

O fato é que, até o momento, somando os que aderiram ao PDO (1.181), que sairão até março, e esses 600 demitidos, temos um total de 1.781 trabalhadores que estão sendo desligados, representando quase 57% de um quadro de 3.154.

Adicionalmente, a direção da Petrobrás se prepara para vender as ações da Distribuidora que ainda possui, talvez até a totalidade.

A crônica de uma morte anunciada

Infelizmente, o caso da BR Distribuidora é um cenário que se aproxima cada vez mais da realidade dos trabalhadores do Sistema Petrobrás. O papo de que existe vida possível após a privatização não passa de falácia e conversa fiada para enganar os incautos que ainda esperam um milagre. Na semana passada, Castello Branco, seguindo a agenda neoliberal de seu chefe Paulo Guedes, deu mais uma mostra do que prepara para os trabalhadores da Petrobrás com o fechamento da ANSA (Araucária Nitrogenados), demitindo logo de cara quase 400 empregados.