Democracia em Vertigem é um filme sobre golpistas. Por isso incomodou tanto. Por Moisés Mendes

Atualizado em 14 de janeiro de 2020 às 6:12

 

 

A direita acusou o golpe com a indicação de Democracia em Vertigem para concorrer ao Oscar. Não é um documentário dos grandes, sob o ponto de vista de quem entende ou pensa que entende de cinema.

Mas é um filme com uma pegada política que surpreende o reacionarismo brasileiro, tão dono de si desde o golpe contra Dilma. É um filme para incomodar a direita, mais do que para agradar a esquerda. É um documentário contra os golpistas.

Por isso a direita se impressionou tanto. A direita que virou extrema direita é muito impressionável. Eles achavam que Hollywood não seria capaz de acolher um filme com essa coragem. Pois acolheu e irá expor para o mundo a cara repulsiva do golpe.

Democracia em Vertigem é uma bofetada (sim, às vezes tem que ser como uma bofetada) na cara de falcatruas como aqueles que fizeram o filme sobre Sergio Moro e aquele documentário sobre os mecanismos do lavajatismo. Confessem que vocês achavam que aquilo ganharia algum prêmio.

A direita que chora vendo o filme dos papas, que revela um papa e esconde o outro, chocou-se com a notícia do documentário no Oscar porque achava que o cinema seria incapaz de se mostrar como arte de resistência depois de agosto de 2016.

Democracia em Vertigem é um documento maravilhosamente panfletário, como deve ser um filme decidido a brigar pelas liberdades.

A direita está esbaforida, quando deveria tentar ser mais contida e se comportar numa hora dessas. Quanto mais a direita acusa o golpe e diz odiar o filme, mais o documentário cumpre sua missão, a de incomodar os canalhas e tirá-los do aparente conforto sob a asa azeda do bolsonarismo.

Peçam que José Padilha faça um filme de Oscar para vocês. Mas antes chorem, canalhas. Chorem muito.

Democracia em Vertigem não vai ganhar o Oscar, porque até isso, em apenas um dia de festa, deixou de ser importante.

O verdadeiro Oscar é o tormento dos golpistas e dos bolsonaristas disfarçados. O efeito devastador da indicação é o que basta.

Chorem, seus ex-tucanos transformados em bolsonaristas fofos simpatizantes de chefes de milicianos. Despedacem-se. Joguem-se do Viaduto da Borges. Rasguem-se, pilantras sem escrúpulos.

Sejam ridículos. Façam um documentário sobre essa dor. Mais da metade do Brasil está se divertindo com o sofrimento de vocês.