Dentista torturado na ditadura é indenizado em R$ 1,1 milhão após 48 anos

Atualizado em 10 de junho de 2023 às 13:16
Osmar Gomes da Silva foi torturado na Ditadura Militar. Foto: Maurício Businari/UOL

Após 48 anos, o dentista Osmar Gomes da Silva, será indenizado por ser torturado durante a ditadura militar em 1975. O morador de Santos na época receberá da União o valor de R$ 1,1 milhão por ser mantido como prisioneiro político nos porões do Destacamento de Operações de Informações de Defesa Interna (DOI-Codi).

Osmar foi sequestrado pelos agentes de seu consultório no litoral e levado para São Paulo por ter se filiado ao Partido Comunista do Brasil em 1969, quando o grupo político atuava na ilegalidade. O dentista recebeu a decisão favorável no início de maio, após 16 anos de batalhas jurídicas, mas afirmou que indenização não será o suficiente para apagar as lembranças amargas e as marcas da violência sofrida.

“Eu atendia pessoas ligadas aos sindicatos. Santos sempre foi uma cidade conhecida por seus movimentos sindicais, tanto que passou a ser chamada de ‘cidade vermelha’ durante o regime. Esse meu contato com militantes do partido e intelectuais me levou à filiação ao Partido Comunista do Brasil, em 1969”, contou.

O militante foi levado para a capital sem saber o destino, pois estava sob um capuz que impedia de reconhecer o caminho. Ele só teve a visão desimpedida quando estava em um ambiente escuro, sem janelas e cheio de militares. Após responder a um breve interrogatório, foi jogado em uma cela com outros cinco rapazes. Tempos depois, descobriu que havia sido delatado por companheiros presos antes dele.

“Eu estava atendendo um paciente, quando minha assistente entrou na sala e disse que havia na recepção alguns ‘senhores’ querendo falar comigo. Eles me agarraram e levaram para um carro estacionado na rua. Quando entrei, colocaram um capuz na minha cabeça e eu passei um bom tempo no banco de trás, espremido entre dois homens, seguindo para um destino desconhecido”.

Nas dependências do DOI-Codi, Osmar relatou que o fizeram tirar suas roupas e sentar em uma cadeira de choque. Em outro método de tortura, os militares também colocavam um arame eletrificado no ouvido do preso para que a dor fosse mais forte. “A sensação era de que o cérebro estava fritando”.

“Não há como descrever a dor excruciante daquilo. E o cara [um dos militares] não parava de fazer perguntas e girar a manivela da máquina de choque. Mas eu não delatei ninguém. Não sei como aguentei”, comenta.

Osmar esteve preso durante agosto e dezembro de 1975. Em 25 de dezembro daquele ano, aconteceu um dos crimes mais famosos cometidos pelos militares: a morte do jornalista Vladimir Herzog, que foi mantido preso e os agentes da ditadura tentaram forjar uma cena de suicídio.

Herzog foi assassinado pelos militares, que forjaram uma cena de suicídio. Foto: reprodução

O dentista contou que “ele [Herzog] foi morto lá dentro pelos militares. Não aguentou as torturas. Éramos companheiros de corredor, mas nunca nos encontramos. Fui saber que ele estava lá quando a notícia da morte dele se espalhou. Aquele foi o momento da virada, o começo do fim da ditadura”.

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