Departamento de Estado dos EUA via comandante da Marinha como golpista

Atualizado em 21 de setembro de 2023 às 13:34
O ex-comandante da Marinha, Almir Garnier Santos. Foto: Marcos Corrêa/PR

A revelação de que Almir Garnier, ex-comandante da Marinha, teria dado aval para um eventual golpe de Estado de Jair Bolsonaro veio à tona com a delação de Mauro Cid, ajudante de ordens do ex-presidente.

No entanto, a vocação golpista do ex-comandante da Marinha era de conhecimento até do Departamento de Estado norte-americano. Em junho, o jornal britânico Financial Times publicou reportagem investigativa mostrando esforços do governo Biden para evitar um golpe de Bolsonaro.

Segundo um alto funcionário do governo Biden, “o almirante Almir Garnier, era o mais “difícil” dos chefes militares. Para fazer todo um trabalho de dissuasão, o Departamento de Estado e o comando militar dos EUA disseram que iriam romper os acordos [militares] com o Brasil, desde o treinamento até outros tipos de operações conjuntas”, relatou o FT.

O Financial Times conversou com seis funcionários dos EUA envolvidos nesse esforço, bem como com várias figuras institucionais brasileiras importantes, para reunir a história de como o governo Biden se envolveu no que um ex-alto funcionário do departamento de Estado chamou de “campanha muito incomum” nos meses que antecederam a votação, usando canais públicos e privados.

Biden tinha motivos fortes para evitar a ingerência de Bolsonaro nas eleições de 2022. Após a insurreição de 6 de janeiro por apoiadores de Trump, no Capitólio, tentando anular os resultados da eleição de 2020, Biden se sentiu firme para peitar qualquer tentativa de Bolsonaro de questionar o resultado das eleições.

Uma campanha coordenada, mas não anunciada, em vários ramos do governo dos EUA, incluindo militares, CIA, Departamento de Estado, Pentágono e Casa Branca foi a solução. “Foi um compromisso muito incomum”, diz Michael McKinley, ex-embaixador no Brasil e ex-funcionário do Departamento de Estado.

Essa estratégia começou com a visita do conselheiro de segurança nacional do presidente Joe Biden, Jake Sullivan, ao Brasil em agosto de 2021. Um comunicado da embaixada disse que a visita “reafirmou a relação estratégica de longa data entre os Estados Unidos e o Brasil. ” mas Sullivan deixou sua reunião com Bolsonaro preocupado”, disse o FT.

Thomas Shannon, também do Departamento de Estado, relembra que até Hamilton Mourão foi envolvido na estratégia americana. Num jantar com investidores em julho de 2022, Mourão disse que as Forças Armadas do Brasil estavam comprometidas com a democracia. Na saída, Shannon se juntou a ele. “Você ouviu a preocupação das pessoas sobre o risco de um golpe”. Mourão também externou preocupação.

Um reforço adicional à mensagem para o Brasil veio da general Laura Richardson, chefe do Comando Sul dos EUA, durante visitas em setembro passado e novembro de 2021. O chefe da CIA, William Burns, também veio ao Brasil e disse ao governo Bolsonaro para não mexer com as eleições”.

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