
Em seu depoimento, por escrito, ao Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro, Fabrício Queiroz assumiu que desviava dinheiro de funcionários do gabinete de Flávio Bolsonaro.
Segundo ele, era por uma causa nobre: tirava parte do salário de uns para pagar a outros, “assessores informais”.
Em seu depoimento, os advogados escreveram que ele “entendeu que a melhor maneira de intensificar a atuação política seria a multiplicação dos assessores de base eleitoral, valendo-se, assim, da confiança e da autonomia que possuía para designar vários assistentes de base, a partir do gerenciamento financeiro dos valores que cada um destes recebia mensalmente”.
Ele tentou livrar Flávio Bolsonaro da responsabilidade pelo que foi feito, que, a rigor, pode ser definido por uma palavra: crime.
Foi desvio de dinheiro público, e o nome dessa prática é peculato.
Queiroz, é claro, disse que o chefe não sabia da prática — se ele dissesse que Flávio sabia, ambos poderiam responder pela mesmo delito.
O depoimento dele colide com outras versões apresentadas no caso.
O próprio Queiroz havia dito que a movimentação milionária atípica em sua conta foi fruto da venda de carros.
O policial militar Agostinho Moraes da Silva, que foi ex-assessor de Flávio Bolsonaro, admitiu que transferia todos os meses 60% de seu salário a Fabrício Queiroz, e o motivo que deu é empréstimo.
Com o dinheiro, Queiroz comprava carros, revendia e pagava juros superiores aos do mercado.
O policial Agostinho não comprovou nada do que disse, já que, na versão dele, fazia as transferência pelo sistema bancário e recebia em dinheiro vivo.
Com o depoimento de Queiroz, essa versão se enfraquece ainda mais.
Queiroz disse que não ficava com dinheiro da rachadinha, como é conhecida a prática ilegal de devolução de salários na Assembleia do Rio de Janeiro.
Portanto, não usava o recurso para comprar carro.
Mas alguém ficava com esse dinheiro.
Na versão dele, assessores informais.
Michele Bolsonaro, esposa de Jair Bolsonaro, não era assessora informal, mas recebeu R$ 24 mil reais que saíram da conta de Queiroz, conforme rastreamento feito pelo Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf).
O depoimento de Fabrício fica ainda mais frágil quando se sabe que ele não precisava recorrer a um expediente ilegal para contratar assessores informais na base eleitoral de Flávio Bolsonaro.
A Assembleia Legislativa do Rio permite que os gabinetes de deputados desdobrem os cargos. Em princípio, cada gabinete tem 20 cargos para preencher, mas noves destes podem ser desdobrados, com a divisão formal de salários.
Não era necessário que o dinheiro passasse pela conta de Fabrício Queiroz, ele próprio contratado como coordenador de segurança, que fazia as vezes de motorista.
Com sua confissão de que desviava os recursos, Fabrício Queiroz dificilmente escapará de um processo por peculato.
Mas, se se investigar um pouco mais, inclusive para ver quem fazia os depósitos em dinheiro na conta de Flávio Queiroz, se saberá que talvez o desvio de dinheiro público não tenha tido a finalidade “nobre” de expansão da atividade parlamentar.
Pode ter contribuído apenas com a expansão do patrimônio de Flávio Bolsonaro.