
Durante o cumprimento de mandado de busca e apreensão no apartamento funcional do deputado federal Antônio Leocádio dos Santos (MDB-PA), conhecido como Antônio Doido, em operação deflagrada nesta terça-feira (16), a Polícia Federal encontrou celulares arremessados pela janela.
Os aparelhos foram localizados no gramado do prédio e registrados em vídeo pelos agentes, segundo a jornalista Andréia Sadi, da GloboNews. No imóvel, os policiais também apreenderam dinheiro em espécie.
Antônio Doido é um dos principais alvos da Operação Igapó, que apura a atuação de uma organização criminosa suspeita de corrupção, lavagem de dinheiro e desvio de recursos públicos. De acordo com a PF, o grupo desviava verbas de emendas parlamentares e recursos estaduais por meio de fraudes em processos licitatórios, utilizando o dinheiro para pagamento de vantagens indevidas e ocultação de patrimônio.
A investigação indica que os valores desviados eram movimentados por meio de um esquema estruturado, com uso de intermediários para dificultar o rastreamento da origem dos recursos. A tentativa de se desfazer dos celulares durante a ação é vista pelos investigadores como indício de obstrução das apurações, já que os aparelhos podem conter mensagens e registros relevantes para o inquérito.
Saques milionários

A Procuradoria-Geral da República passou a investigar Antônio Doido após a prisão de dois aliados próximos do deputado, flagrados com grandes quantias em dinheiro vivo em momentos estratégicos do calendário eleitoral.
Em outubro de 2024, o policial militar Francisco Galhardo foi preso ao sacar R$ 5 milhões em espécie em uma agência bancária em Castanhal, no Pará, dois dias antes do primeiro turno das eleições municipais em Ananindeua, cidade onde Doido disputava a prefeitura e acabou derrotado.
Em janeiro de 2025, outro episódio reforçou as suspeitas: Jacob Serruya Neto, então assessor do parlamentar, foi detido ao sacar R$ 1,1 milhão em dinheiro. Após a prisão, ele foi exonerado do cargo na Câmara dos Deputados.
Relatórios do Conselho de Controle de Atividades Financeiras apontam que Francisco Galhardo realizou ao menos 15 saques entre 2023 e 2024, somando R$ 48,8 milhões. Para a PGR, há indícios de que o dinheiro pertencia ao deputado e era movimentado por meio de um “complexo e sofisticado mecanismo de lavagem”.
Conversas obtidas pela Polícia Federal também indicam a participação direta de Antônio Doido na liberação de pagamentos. No dia em que os R$ 5 milhões foram apreendidos, mensagens mostram que o deputado teria ordenado a entrega de R$ 380 mil a um homem identificado como Geremias, encontrado pela polícia com o valor dentro de um carro estacionado nas proximidades da agência bancária.
Segundo o Ministério Público, os recursos desviados teriam origem em contratos públicos e teriam sido usados tanto para corromper agentes quanto para financiar campanhas eleitorais, com concentração de saques nos meses que antecederam as eleições.
Deputado federal pelo MDB, Antônio Leocádio dos Santos iniciou a carreira política como prefeito de São Miguel do Guamá, no Pará. Eleito para a Câmara em 2022 com 126.535 votos, declarou R$ 2,5 milhões em bens em 2024 e destinou R$ 37,8 milhões em emendas parlamentares naquele ano, principalmente para áreas de saúde e infraestrutura.