
O deputado federal Euclydes Pettersen (Republicanos-MG) enviou R$ 2,5 milhões em emendas parlamentares para uma ONG ligada à Conafer e, logo depois, vendeu uma aeronave para o presidente da entidade. O caso, que envolve fraudes em licitações e uso de laranjas, é investigado pela Polícia Federal (PF), conforme informações do colunista Tácio Lorran, do Metrópoles.
Pettersen é considerado o principal porta-voz político da Conafer. Em outubro de 2022, destinou R$ 1,5 milhão ao Instituto Terra e Trabalho (ITT), parceiro da entidade. Em dezembro de 2023, enviou mais R$ 1 milhão. Ambas tinham como objeto a capacitação de agricultores e inseminação de gado bovino em Minas Gerais.
Entre essas duas movimentações, em março de 2023, o deputado e um sócio venderam um Cessna Aircraft 172RG, prefixo PR-ATM, comprado em 2021 por R$ 320 mil, ao presidente do ITT, Vinícius Ramos da Cruz, por R$ 400 mil.
Dois anos depois, em junho de 2025, o avião foi transferido novamente, desta vez por R$ 700 mil, para Silas da Costa Vaz, secretário da Conafer. Durante a pandemia, ele recebeu R$ 4.050 de auxílio emergencial e hoje mora no Recanto das Emas, região de baixa renda do Distrito Federal, o que levantou suspeitas de que seria um laranja.
Questionado, Silas disse: “Eu não me lembro [de ter assinado qualquer documento]. Toda hora eu assino documentos”.

Jatinho valorizado em 150%
Uma segunda operação aumentou as suspeitas. Em janeiro de 2025, Vinícius adquiriu um Beech Aircraft modelo 58P, prefixo PT-OOV, por R$ 1 milhão. Em junho, revendeu o avião a Silas da Conafer por R$ 2,5 milhões, pagos em duas parcelas. O jatinho valorizou 150% em apenas cinco meses.
Procurado, o deputado federal negou irregularidades: “não é um jatinho e, sim, um avião monomotor no valor R$ 200 mil, sendo que eu só tinha 50% desse avião, que eu vendi para um empresário de Governador Valadares”. Ele negou ter feito negócios com Vinícius Ramos.
Fraude em licitações
As emendas enviadas por Pettersen foram repassadas ao ITT por meio de convênios. Nesse modelo, a própria ONG realiza licitações e subcontrata empresas para a execução do objeto.
Segundo as investigações, houve simulação de concorrência e fraude nas licitações. A principal beneficiada foi a Agropecuária PKST LTDA, ligada à Conafer, que recebeu mais de R$ 2,1 milhões. A empresa pertence a Ingrid Pikinskeni Morais Santos, esposa de Cícero Marcelino de Souza Santos, apontado pela PF como assessor do presidente da Conafer, Carlos Roberto Ferreira Lopes.
A PKST simulou concorrência com empresas também do núcleo da Conafer, como a Agropecuária e Mineração Lagoa Alta LTDA, de Bruna Braz de Souza Santos Lopes, esposa do presidente da entidade, e a Ala Genetics, cujo CNPJ e carimbo na proposta correspondiam justamente à Lagoa Alta.
No total, a Agropecuária PKST obteve três subcontratos ligados às duas emendas, com foco em inseminação artificial de bovinos e capacitação de produtores rurais. O ITT ainda não prestou contas desses convênios.
Respostas dos envolvidos
Pettersen admitiu ligação com a Conafer e o ITT, mas disse não ter responsabilidade sobre a execução das emendas. “Sobre os prestadores de serviço, eu não tenho conhecimento. Quando indicamos o recurso, fica a responsabilidade do instituto direto com o ministério para aprovação do plano de trabalho”, afirmou.
A Conafer respondeu que a ONG não pertence à entidade, apenas integra o quadro de associados. Ressaltou que “não recebeu e nem executou emenda parlamentar” e que, em relação à Agropecuária PKST, “no trato comercial que tem com a Conafer sempre agiu dentro da legalidade”. A confederação afirmou ainda que não cabe a ela se manifestar sobre supostas fraudes em licitação.