O deputado federal e pastor evangélico Otoni de Paula (MDB-RJ) vem manifestando preocupação com o que considera uma crescente influência do bolsonarismo, corrente política que defendeu até recentemente, nos altares das igrejas brasileiras.
Em entrevista, Otoni de Paula afirmou que o uso de símbolos nacionais e o alinhamento a um lado específico da política estariam afastando a comunidade religiosa de seu propósito original, promovendo divisões e um clima de intolerância entre os fiéis.
Otoni destacou que, em várias igrejas, a bandeira do Brasil passou a ser utilizada como um símbolo alinhado ao bolsonarismo, representando um lado político específico e sugerindo oposição àqueles que votam de maneira diferente.
Rapaz! Se o Otoni está sendo sincero ou oportunista para cair fora do bolsonarismo eu não sei, mas que ele falou a real falou.
— Lázaro Rosa 🇧🇷 (@lazarorosa25) October 31, 2024
Segundo o deputado, “a bandeira foi usada para representar um lado da política, sugerindo que quem vota diferente é comunista”. Ele apontou que esse fenômeno gerou uma divisão entre os fiéis, com a prática de rotular quem não compartilha da visão bolsonarista como “inimigo” ou “não patriota.”
Entre os pontos levantados, o pastor e deputado mencionou que o clima polarizado nas igrejas tem influenciado até mesmo as práticas espirituais, como orações e cultos, onde há resistência por parte de alguns fiéis em orar por autoridades que não compartilham da visão bolsonarista. Ele enfatizou que as Escrituras orientam os cristãos a orarem por todas as lideranças, independentemente de preferências políticas, algo que, segundo ele, parece cada vez mais ausente.
Otoni de Paula também relatou mudanças no ambiente das igrejas, destacando que o que antes era motivo de comunhão agora se tornou fonte de conflito e exclusão. Segundo ele, membros das congregações que expressam apoio a candidatos que divergem do bolsonarismo, como Lula ou membros do PT, têm sido vistos como opositores e, em alguns casos, convidados a se retirar das igrejas.
Ele criticou o que considera uma intolerância crescente: “Em qual eleição, antes, um pastor subia ao altar para dizer que quem votasse em determinado candidato deveria sair da igreja?” questionou.
Outro ponto abordado foi a crescente defesa de elementos estranhos à religiosidade, tais como o armamento civil e posicionamentos contrários a programas de assistência social, que, segundo o deputado, não representam os valores cristãos de acolhimento e caridade. “O crente passou a defender armas e ideologias políticas que não condizem com os ensinamentos bíblicos. Essas discussões estão cada vez mais presentes nos altares”, comentou.
Otoni de Paula reafirmou o propósito original da igreja e criticou a crescente influência do bolsonarismo no cenário religioso. “A igreja não é Lula, Bolsonaro, PT ou PL; ela não pode se tornar palco de uma ideologia que divide e afasta os fiéis”, afirmou o deputado, enfatizando que as igrejas devem permanecer focadas em sua missão espiritual, independente de disputas políticas.
“Agora, você pergunta se eu não tenho medo de perder votos. Não tenho medo de perder votos, porque a política, para mim, é uma missão. Talvez as pessoas não acreditem no que estou falando, mas podem acreditar. Qual político se exporia como eu estou me expondo se não acreditasse que a política, em minha vida, é uma missão?”, perguntou Otoni. “O altar é o meu chamado, e eu não vou abrir mão do meu chamado por uma missão temporária. Sou deputado por quatro anos; se não quiserem me reeleger, não tem problema. Isso é democracia. Mas eu não vou vender a minha consciência para ter um mandato eleitoral. Olha a arrogância do bolsonarismo: eles acham que são donos da igreja, hein?”