Desanimar agora é construir a derrota. Por Luis Felipe Miguel

Atualizado em 6 de outubro de 2018 às 14:13
Eleições

Publicado originalmente na fangpage do Facebook do autor

POR LUIS FELIPE MIGUEL, professor de Ciência Política na UnB

As mentiras disseminadas pela campanha do Bozo pelo Whatsapp são impressionantes. Vão desde a simples inversão dos fatos (Haddad diz que não vai respeitar o resultado da eleição, PT ameaça 13º salário) até as invenções mais descabidas (mamadeira erótica, políticas de mudança de sexo em massa para crianças). Se isso é eficaz, vemos que nosso problema não é só a falta de educação política, mas também a pura, simples e abissal ignorância de boa parte da população. Justiça eleitoral e mídia de massa deveriam estar dedicando uma grande energia a desmentir veementemente essas mentiras – e outras, como aquela em que a direção da campanha de Haddad recomendaria a seus eleitores para deixarem para votar só no dia 8 – que são formas de fraudar a expressão da vontade popular nas urnas. Mas não fazem nada, é claro. Ao contrário. O TSE permitiu que a Record divulgasse uma enorme propaganda do fascista enquanto ocorria o debate na Rede Globo.

Mas da esquerda também surgem algumas “fake news”, que é necessário combater. Vou apontar três delas.

1) Não é verdade que votar em qualquer candidato que não seja Haddad ajuda o Bozo a ganhar no primeiro turno. A divulgação dessa informação parece responder a certo hegemonismo que a militância petista aplica, mas que no momento é um gigantesco tiro no pé. Para que não haja segundo turno, é necessário que o Bozo não obtenha maioria absoluta dos votos válidos (50% + 1). A distribuição dos votos restantes entre os adversários não importa. Objetivamente, hoje, qualquer voto que não seja branco, nulo ou no Bozo está contribuindo para que Haddad esteja no segundo turno. Pode ser no próprio Haddad, no Ciro, no Boulos, no Amoêdo, no Daciolo etc.

Para quem quer ver a letra da lei, eis o artigo 77, § 2º, da Constituição Federal: “Será considerado eleito Presidente o candidato que, registrado por partido político, obtiver a maioria absoluta de votos, não computados os em branco e os nulos.”

2) Não é verdade que voto em branco para um outro cargo anule o voto presidencial. Não sei bem de onde veio essa história, mas recebi de várias pessoas – o risco de que alguém votasse para presidente e abandonasse a urna em seguida, votando em branco para os outros cargos. Não é verdade. Primeiro, o voto para presidente é o último a ser dado. Segundo, votar em branco não é abandonar a urna: é preciso teclar “branco” a cada vez, assim como para anular o voto é preciso teclar um número inexistente e confirmar. Terceiro, a votação para um cargo não interfere na votação para outro; o eleitor pode fazer a combinação que quiser de partidos, brancos e nulos. Por fim, não é possível abandonar a urna antes de votar em todos os cargos. O mesário só devolve o documento e libera a entrada de outro eleitor depois que o sistema informa que o processo foi completado.

3) Mais importante: NÃO É VERDADE QUE O BOZO “JÁ GANHOU”. Esse desânimo, que é útil à direita, é espalhado por muitos de nós, seja por uma autoproteção, seja porque ser pessimista é “chic”. Bozo vai ganhar é se, por desânimo, nós jogarmos a toalha. Vaso contrário, o mais provável é que perca. O voto da direita já se concentrou nele, sua rejeição é enorme, no segundo turno ele é obrigado a se expor, no segundo turo há mais debate e politização. Temos que garantir o segundo turno com nosso trabalho – está aí, é garantir, não é uma virada – e, no segundo turno, ganharemos do Bozo. E depois ainda virão muitas outras batalhas. Desanimar, agora, é construir a derrota.