
A fala radicalizada do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), em ataques ao Supremo Tribunal Federal (STF) e no apoio irrestrito a Jair Bolsonaro (PL), não repercutiu bem entre empresários que até pouco tempo o viam como o principal candidato para a sucessão presidencial de 2026. Com informações da Folha de S.Paulo.
O desconforto aumentou após o discurso do 7 de Setembro, na avenida Paulista, quando Tarcísio chamou Alexandre de Moraes de “tirano” e afirmou que o STF estaria julgando “um crime que não existiu”.
O primeiro sinal de alerta ocorreu no fim de agosto, quando Tarcísio prometeu indultar Bolsonaro se for eleito presidente no ano que vem. Desde então, representantes do setor privado, que tratam o tema eleitoral com discrição, passaram a manifestar reservas. Até então, seu nome era o mais citado em conversas reservadas como alternativa ao confronto direto entre petismo e bolsonarismo. A guinada radical, porém, levantou dúvidas sobre a consistência de sua imagem moderada.
O empresário Antônio Carlos Pipponzi, membro do conselho de administração da RD Saúde, afirmou que a postura do governador causa desânimo.
“Até aqui era notório que Tarcísio era o candidato preferido do empresariado, seja pela sua visão sobre a economia, seja pelo seu equilíbrio com relação ao extremismo que ainda toma conta das discussões políticas no país. Suas falas radicais arrefecem muito o entusiasmo da linha mais equilibrada da ala empresarial, que coloca a manutenção do Estado de Direito com respeito à Constituição acima do direcionamento econômico. Ao mesmo tempo, as novas lideranças que estão se apresentando como pré-candidatos vão começar a ganhar tração, e poderemos ter surpresas na disputa final”, afirmou.
O discurso do governador de SP em 21025 foi exatamente o mesmo do ex-presidente em 2021.
O discurso do Bolsonaro foi a antessala da tentativa de golpe e agora temos Tarcísio reivindicando o mesmo discurso.
Acabou a ficção do “bolsonarismo moderado”.
Vejam os dois discursos pic.twitter.com/OjZyy1Ktof
— Cleber Lourenço (@ocolunista_) September 8, 2025
Outro nome de peso do setor financeiro, Fábio Barbosa, ex-presidente do Santander e da Febraban, avaliou que a mudança de tom do governador pode custar caro. “Compreendo a lógica de Tarcísio ao buscar apoio e votos na direita bolsonarista. Mas acho que errou muito, e desnecessariamente, na dose. E com isso pode perder o apoio do centro e moderados de direita. Preocupa, pois era, ou é, visto como um bom nome da direita”, disse.
Ricardo Lacerda, fundador da BR Partners, alertou para os riscos de discursos extremos. “Estamos em uma fase do processo eleitoral na qual os candidatos falam para suas bases. Daí o discurso de pobres contra ricos do presidente Lula e a recente radicalização pró-Bolsonaro do governador Tarcísio. Mas eu acho que no decorrer do processo ambos buscarão mais o centro. Teremos uma disputa que será decidida por 2% ou 3% de eleitores de centro, então é preciso cuidado para não explodir pontes com esse grupo”, avaliou.
João Camargo, criador do grupo Esfera, também fez ressalvas. “A eleição ainda está a 13 meses de distância, e até lá muita coisa pode mudar. O processo democrático prevê que as convenções partidárias escolham os melhores representantes, tanto no campo progressista quanto no liberal. O essencial, acima de nomes ou polarizações, é que o Brasil tenha um verdadeiro plano de Estado, sólido, de longo prazo e capaz de guiar o país com estabilidade e visão”, afirmou.
Para Lawrence Pih, que foi um dos primeiros empresários a apoiar o PT nos anos 1980 e também um dos primeiros a criticar o governo Dilma Rousseff, a imagem de moderação atribuída a Tarcísio nunca existiu.
“Tarcísio se mostra como um ente político de criação de Bolsonaro, que não existe como político pensante próprio”, disse. Segundo ele, a figura do governador como um “Bolsonaro light” é uma ficção. “Ele diz que não confia na Justiça e, se eleito presidente, irá indultar o golpista Bolsonaro como primeiro ato de governo. Tarcísio não mede esforço para viabilizar o projeto da anistia ampla para livrar Bolsonaro do golpe de Estado que arquitetou, mesmo afrontando as mais sagradas instituições do país. Na realidade Tarcísio está convicto de que Bolsonaro continuará inelegível e prepara terreno para seguir os passos do mentor”, completou.
Apesar da perda de entusiasmo, outros nomes seguem sendo citados em listas de possíveis candidatos que agradam o empresariado. Entre eles estão Ronaldo Caiado (União Brasil), governador de Goiás, Romeu Zema (Novo), governador de Minas Gerais, e Ratinho Jr. (PSD), governador do Paraná.