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O desaparecimento de Bruno Pereira e Dom Phillips virou sinônimo na imprensa francesa de confusão e inação do governo Bolsonaro para encontrá-los e combater o crime na Amazônia.
As declarações do presidente sobre o caso foram alvo das críticas do jornal Libération. “Um discurso cheio de compaixão, o que é no mínimo surpreendente quando se sabe que o presidente brasileiro não havia particularmente se mobilizado para encontrar Dom Phillips e Bruno Pereira”, dizem os jornalistas François-Xavier Gomez e Julien Lecot, em referência às orações que o mandatário diz fazer. “Brasília levou tempo, muito tempo, para disponibilizar meios às buscas”.
“A inação de Jair Bolsonaro foi tamanha que a justiça do estado do Amazonas havia solicitado na semana passada que o governo mobilizasse helicópteros, barcos e efetivos para participar das buscas”, afirma o artigo, do último dia 13.
A publicação aponta o aumento dos ataques aos povos indígenas e defensores do meio ambiente. “A culpa é de uma forte queda nos subsídios destinados aos órgãos de proteção, em benefício do agrobusiness, dentre outros”.
“Para muitos, Jair Bolsonaro não é inocente no duplo desaparecimento. Não que ele esteja diretamente envolvido nos prováveis assassinatos, mas por ter deixado prosperar facções criminosas nessa região tão sensível”.
“Se confirmado, o duplo assassinato pode custar caro a Jair Bolsonaro pois o caso tem grande repercussão no Brasil”, observa, em alusão às próximas eleições presidenciais.
Para L’Express, uma das principais revistas da França, reina a confusão. “Desaparecidos na Amazônia: confusão na espera por resultados de perícia”.
“O presidente brasileiro Jair Bolsonaro anunciou segunda-feira que ‘vísceras humanas’ haviam sido encontradas nas buscas pelo jornalista britânico e o indigenista desaparecidos há oito dias na Amazônia, mas uma grande confusão reinava na espera por resultados das perícias”.
“Segunda de manhã, diversos membros da família do jornalista disseram ter sido informados de que dois corpos haviam sido encontrados, uma informação no entanto desmentida pela Polícia Federal e uma associação de indígenas que participa das buscas”, relata.
“Diversas informações contraditórias circulavam sobre os corpos que teriam sido encontrados nas buscas”, observa o semanário.
A publicação cita os protestos de povos indígenas realizados na última segunda-feira “para exigir respostas das autoridades em Atalaia do Norte”. E lembra o trabalho de Phillips e Pereira. No caso do último, “sua ação em defesa dos autóctones lhe rendeu ameaças frequentes, inclusive de morte, por parte de grupos criminosos”.
A revista aponta as críticas nacionais e internacionais ao presidente do Brasil, como de Caetano Veloso e do grupo irlandês U2.
“O presidente Bolsonaro, que viu o desmatamento na Amazônia aumentar fortemente desde o início de seu mandato, em janeiro de 2019, foi criticado por parentes dos desaparecidos e grupos indígenas por seu atraso no lançamento de buscas pelos dois desaparecidos, que se engajaram, segundo ele, numa ‘aventura não recomendável’”.
No jornal Le Monde, são as características das buscas pelos desaparecidos que ganham destaque.
“Vários barcos de madeira deslizam silenciosamente pela selva inundada do Vale do Javari. Os indígenas que participam da busca estão convencidos de que é uma questão de ‘horas’ ou de ‘dias’ para encontrar um rastro dos dois desaparecidos na Amazônia brasileira.”
O cotidiano observa que o Exército e a Polícia Federal brasileira levaram um dia para se juntar às buscas “depois de uma forte pressão internacional”.
São as buscas realizadas pelos povos indígenas que recebem o destaque da publicação: “Nas zonas não inundadas, os indígenas, que pertencem a cinco grupos étnicos diferentes, percorrem o solo enlameado a pé, abrindo caminho com um facão pela vegetação densa.”
“As buscas são fastidiosas e se operam num clima tenso através de uma região fronteiriça com o Peru e a Colômbia, onde vivem 19 grupos indígenas isolados e onde se desenvolvem tráficos de droga, pesca e mineração ilegal. Mas esses salvadores voluntários estão convencidos de que a busca dará resultados logo”.