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Descaso e desrespeito: o ministério da Cultura é um exemplo do que Temer faz com o Brasil. Por Carlos Fernandes

Temer, Osmar Serraglio e João Batista de Andrade

 

Na manhã dessa sexta (16) o ministro interino da Cultura, João Batista de Andrade, entregou ao presidente Michel Temer sua carta de demissão. 

Menos de um mês após assumir a pasta, Andrade aumenta a fileira dos ministros que, por corrupção, por dissidência partidária ou por vergonha na cara, abandonaram o governo da coalizão golpista.

Dos motivos alegados para sua decisão encontram-se a precariedade de um ministério que teve seu orçamento reduzido em 43% – o que inviabiliza a realização efetiva de qualquer projeto para o desenvolvimento da cultura brasileira – e o flagrante desrespeito com a autonomia do setor. 

Em entrevista concedida à rádio Jovem Pan, Andrade afirma que sua permanência no cargo ficou insustentável após a escolha do novo presidente da Agência Nacional do Cinema (ANCINE). 

Após ignorar todas as indicações das entidades do cinema e do próprio ministério da Cultura, Temer resolveu, como de costume, remeter autoritária e monocraticamente ao Senado o nome de outra pessoa, digamos, mais alinhada ao estilo “moral” da presidência da República.

Frente as reiteradas demonstrações de desprestígio e desautorização pública a que vinha sendo submetido, Andrade fez o questionamento inevitável a todos de alguma índole que ainda compõem esse governo: “o que estou fazendo aqui?”.

É desolador, mas o que acontece hoje no ministério da Cultura (e em todas as outras pastas como Educação e Saúde) é apenas uma pequena fração do que está sendo imposto ao país inteiro.

A precarização, o desmonte e o aparelhamento do Estado por um governo formado por quadrilheiros está minando toda a capacidade que ainda resta ao Brasil para se reerguer.

A pauta entreguista que sempre esteve no horizonte sob condição “sine qua non” para o pagamento da fatura do golpe, serve agora não apenas para o deleite do capital internacional, mas também para a manutenção de bandidos profissionais sob o manto do foro privilegiado.

No bojo dessa estrutura ideológica, se é que podemos chamar assim esse conjunto atroz de medidas descabidas do ponto de vista nacionalista, encontra-se o cerne do atual projeto de poder que conduz o país ao ponto de interesse da classe dominante: o aprofundamento da desigualdade social e a definitiva incapacidade do povo brasileiro para questionar.

Nesse contexto não é de se admirar que fosse a cultura, tema completamente descartável para a corja que hoje comanda a nação, um dos primeiros a serem sumariamente excluídos dos alegados “interesses nacionais”.

Andrade, talvez agora tenha de fato percebido, ocupava um cargo que, na prática, não existia. É preciso lembrarmos que o ministério da Cultura foi um dos primeiros ministérios a serem extintos assim que Temer assumiu o cargo.

Foi tão somente por pressão dos movimentos progressistas que o ministério foi reintegrado,verdade seja dita, menos como fato do que como aparência. Assim é o governo Temer.

No fim das contas, após até uma interesseira como Marta Suplicy ter rejeitado o cargo, o ministério da Cultura segue indefinidamente sem um titular.

Tal qual o país.

Tivesse alguma consciência democrática, seria o caso de Temer passar pela mesma catarse moral de Andrade e se questionar: “o que estou fazendo aqui?”

Mas sendo a figura quem é, só mesmo a luta e a consciência política dos cidadãos brasileiros o forçará a sair. E para isso a cultura é imprescindível.

Isso, por si só, já explica o porquê do desmantelamento da cultura nacional.

Carlos Fernandes

Economista com MBA na PUC-Rio, Carlos Fernandes trabalha na direção geral de uma das maiores instituições financeiras da América Latina

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