POR MIGUEL ENRIQUEZ
O desalento diante da falta de oportunidades de emprego está subindo a pirâmide social.
De acordo com reportagem do Estadão, publicada na edição do último domingo, 3, cresceu exponencialmente no ano passado o contingente de trabalhadores classe média, com 10 ou mais anos de estudos, que desistiram de procurar uma colocação no mercado.
Segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), o número dessa categoria de desalentados chegou a 1,66 milhão de brasileiros no terceiro trimestre de 2018, um crescimento de 300% sobre os 394 mil registrados no mesmo período de 2014, ano em que oficialmente teve início a recessão da economia.
O aumento de 1,27 milhão de profissionais qualificados em números absolutos representa também uma ampliação em números relativos. De 27% do total de desalentados, em 2014, o pessoal da classe média passou a representar nada menos de 35%, mais de um terço dos que resolveram ficar em casa, à espera de tempos melhores.
O pessimismo com o mercado de trabalho é reforçado com a constatação de que, a maioria das vagas criadas pela medíocre reativação da economia, nos últimos dois anos, costumam ser de baixa remuneração e, frequentemente, informais.
Essa tendência, por sinal, sustentou a pequena queda na taxa de desemprego, no ano passado. “Puxada exatamente pelo aumento da informalidade, a desocupação caiu de 13,1%, no início do ano, para 11,6%, no fim de dezembro”, diz o jornal.
Uma engenheira de São Paulo, desempregada desde maio passado, explicou à reportagem, a deterioração dos salários oferecidos nas vagas que começaram a aparecer.
“As vagas oferecidas têm remuneração de R$ 3 mil, quando o piso é três vezes maior ( R$ 9 mil)”, afirmou. “Querem que você tenha as mesmas responsabilidades de antes, sem ganhar o suficiente.”