Desgaste da relação com Bolsonaro põe em risco projeto presidencial de Tarcísio

Atualizado em 9 de agosto de 2025 às 10:51
Tarcísio de Freitas e Jair Bolsonaro com Eduardo ao fundo. Foto: Tomzé Fonseca/Estadão

O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) está reconsiderando seu apoio ao governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), como candidato à Presidência em 2026, segundo aliados próximos. A mudança de posição representa um revés para setores que enxergavam no governador o nome mais competitivo para desafiar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Segundo a Bloomberg, com Bolsonaro inelegível até 2030, a tendência é que o ex-presidente direcione seu apoio a um membro de sua família, conforme revelado por fontes próximas ao grupo. A indefinição sobre o rumo da oposição, no entanto, cria um cenário fragmentado, com diferentes nomes sendo cogitados dependendo do interlocutor.

Eduardo Bolsonaro (PL-SP) ganhou força entre a base mais radical ao articular as sanções dos EUA contra o Brasil e o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). No entanto, sua situação jurídica delicada, com risco iminente de prisão caso retorne ao país, o tornaria uma aposta inviável, segundo avaliações em Brasília.

Flávio Bolsonaro (PL-RJ) surge como alternativa por seu perfil mais moderado e boa relação com o centrão. Contudo, as investigações sobre rachadinhas em seu mandato como deputado estadual e a compra suspeita de um imóvel em Brasília com dinheiro vivo pesariam contra sua candidatura.

Michelle Bolsonaro (PL), por sua vez, é vista como uma opção com potencial para atrair o eleitorado evangélico e feminino, além de ter a vantagem da ficha limpa. Apesar disso, aliados afirmam que o ex-presidente prefere mantê-la como candidata ao Senado, demonstrando reservas quanto a uma possível candidatura presidencial.

Jair Bolsonaro e os quatro filhos: Carlos, Flávio, Eduardo e Jair Renan
Jair Bolsonaro e os quatro filhos: Carlos, Flávio, Eduardo e Jair Renan – Reprodução

O dilema de Tarcísio

Tarcísio de Freitas enfrenta um desafio duplo: precisa do apoio de Bolsonaro para se consolidar como nome competitivo, mas não pode adotar integralmente as bandeiras mais radicais do bolsonarismo, colocando em risco a confiança que recebe da “Faria Lima”. A recente crise com os EUA, quando o governador hesitou em criticar as tarifas impostas por Donald Trump, escancarou essa contradição e o tornou alvo de veículos que representam o mercado financeiro, como Estadão e Folha de S.Paulo.

Além disso, uma eventual candidatura presidencial exigiria que Tarcísio se filiasse ao PL, partido de Bolsonaro, o que dificultaria seu distanciamento da imagem do ex-presidente. Pesquisas como a do Datafolha mostram que 61% dos eleitores rejeitam um candidato que prometa anistiar Bolsonaro, questão que inevitavelmente surgiria nos debates.

Com a indefinição no campo bolsonarista, governadores como Ratinho Júnior (PSD-PR), Ronaldo Caiado (União-GO) e Romeu Zema (Novo-MG) passam a ser vistos como possíveis alternativas, embora nenhum deles tenha sinalizado alinhamento direto com Bolsonaro.

Na última quinta-feira (7), Tarcísio visitou Bolsonaro em sua residência em Brasília, onde o ex-presidente cumpre prisão domiciliar. O encontro, autorizado pelo ministro Alexandre de Moraes, foi justificado por “motivos político-institucionais” e “humanitários”.