Desmatamento e matança são provocados pelo governo, denunciam Instituto Socioambiental e Igreja. Por Ricardo Kotscho

Atualizado em 10 de setembro de 2020 às 8:22
Desmatamento de áreas nativas e de florestas em regeneração em fazendas do Mato Grosso. Foto: ARQUIVO IBAMA

PUBLICADO NO BALAIO DO KOTSCHO

POR RICARDO KOTSCHO

Por que o número de assassinatos de líderes indígenas foi o maior nos últimos 11 anos e o desmatamento bateu todos os recordes na Amazônia em 2019, assustando o mundo?

As respostas estão em duas matérias publicadas no UOL nesta segunda-feira, em que o ISA (Instituto Socioambiental) e o arcebispo de Porto Velho e presidente do CIMI (Conselho Indigenista Missionário), dom Roque Paloschi, denunciam diretamente o governo federal e políticos da região pela matança de índios e a derrubada criminosa da floresta.

Declarações antiambientalistas do presidente Bolsonaro e do governador do Acre, Gladson Cameli (PP) são apontados pelo ISA como responsáveis pelo aumento nos índices de desmatamento, com base em dados oficiais dos sistemas Prodes e Deter-B, do Inpe (Instituto de Pesquisas Espaciais).

Após o vídeo gravado pelo presidente em abril, quando condenou uma operação do Ibama contra o roubo de madeira na Floresta Nacional do Jamari, em Cajubim, Rondônia, houve 2.354 alertas de desmatamento na região, o dobro do mesmo período de 2018.

Também em Rondônia, dom Roque Paloschi se declarou estupefato “diante dos ataques aos índios no Brasil, vítimas de uma onda crescente de atentados que já resultaram em sete mortes de lideranças indígenas este ano”, segundo a matéria do UOL.

Para o bispo, essa matança é causada pela “retórica do governo que fomenta esse tipo de violência, o ódio e o preconceito aos povos indígenas”.

“Há setores que manipulam a palavra de Deus para explorar, fomentar o ódio e a violência contra os índios. Usar o nome de Deus para cometer crimes é justamente continuar crucificando Jesus”.

Por isso, o arcebispo, que participou do Sínodo da Amazônia, no Vaticano,  afirma que “a Igreja assumiu ser aliada dos povos indígenas, na defesa da vida, das lideranças, da terra e dos direitos. No Sínodo, o papa Francisco acolheu essa defesa e prometeu se empenhar para que seus direitos sejam respeitados”.

Claro que Ricardo Salles, o sinistro do Meio Ambiente, vai dizer que isso é coisa de comunistas dos países ricos…

Sem meias palavras, o governador do Acre Gladson Cameli fez um discurso em maio, na cidade de Sena Madureira, em que orientou os produtores rurais a não pagar a multa do Imac (Instituto do Meio Ambiente do Acre), “porque quem está mandando agora aqui sou eu”.

Nos dois meses seguintes, houve 2.574 alertas de desmatamento, 225% a mais do que no mesmo período de 2018.

Após a visita de Ricardo Salles a Espigão d´Oeste, em Rondônia, onde avisou que o governo federal faria operações de fiscalização, os assassinos da floresta deram um tempo, para voltar logo depois.

Se depender de Salles, um notório defensor de garimpeiros e madeireiros, a situação só tende a piorar.

Parece que o único programa do governo Bolsonaro para o Meio Ambiente é não deixar nenhum índio e nenhuma árvore em pé para servir de recordação no final do seu mandato.

As denúncias feitas pelas ONGs e pela Igreja Católica só repercutem no exterior, porque por aqui todo mundo faz cara de paisagem, como se não tivesse nada com isso.

Ninguém se dá conta de que estão destruindo não só a vida presente, mas o nosso futuro.

Vida que segue.