Deter Lula depende, cada vez mais, de tirar legitimidade das eleições. Por Fernando Brito

Atualizado em 4 de agosto de 2017 às 11:24

Com todo o cuidado que, a esta altura, se deve ter com pesquisas, o resultado de mais uma pesquisa Vox Populi, na série encomendada pela CUT (se o patronato as contrata aos montes, por que não os trabalhadores?), mostra que a sentença de Sérgio Moro contra o ex-presidente Lula não apenas não o enfraqueceu como arrisca-se a ter, pela exposição na mídia, até provocado alguma melhora na sua situação eleitoral.

Lula sobe dois pontos, tanto nas pesquisas de intenção espontânea (de 40 para 42%), o único a apresentar alterações frente ao levantamento de junho. Nas pesquisas estimuladas, tanto com Geraldo Alckmin como candidato tucano quanto com João Doria neste papel, Lula atinge 47 e 48%, dois e três pontos a mais que na pesquisa anterior. Mesmo jogando para baixo toda as margens de erro, não encolheu, se é que não teve um acréscimo estatisticamente marginal.

Pelos resultado da pesquisa, Lula ganha com folga já no primeiro turno e, nas simulações de segundo, repete a dose com todos os possíveis concorrentes, com igual alentada margem.

É algo difícil  de entender para quem interpreta pesquisa com o olhar liberal e não com o mecanismo de formação da vontade popular. Para estes, o candidato cresce se for “bonzinho” e cai se for “malvado”, numa escala de recompensa/castigo digna do catecismo infantil.

Não é assim.

Candidatos, numa eleição presidencial, tendem a ser a confirmação ou a negação de um índice de satisfação com a vida real, não com conceitos abstratos. E, por mais que esteja o mundo lotado de “teóricos” prontos a discutir se Lula “une a esquerda”  ou ideias assemelhadas, Lula é, essencialmente, o ícone do Brasil sem a crise que se tornou sufocante faz tempo.

Os números de Lula devem ser vistos, assim, como um produto de outras avaliações: a de que a vida piorou (61%), que desemprego e inflação subirão (mais de 70%) e de que ele foi o melhor presidente que o Brasil já teve ( 55%, aproximando-se, outra vez, dos 58% que tinha em 2013, antes de tudo isso que vivemos) e tem, disparado, o melhor perfil para reorganizar o país ( trabalhador – 65%; líder – 63%; capacidade de lidar com crises – 60% e bom administrador-58%).

Por isso, o relativo sucesso que tiveram ao tisnar a imagem de honradez de Lula (“é honesto” é virtude lembrada por apenas 35%). A UDN, por décadas, proclamou-se a imagem da santidade e jamais venceu uma eleição presidencial que, para ficar nas metáforas do passado, faz 2018 figurar um “bota o retrato do velho outra vez/bota no mesmo lugar”

Fica cada vez mais claro que quem não tem um “plano B” é a direita: o plano A, de Aécio, ruiu ao ponto de ser traço nas pesquisas e Alckmin e Doria não vão além de parte de São Paulo, que é grande, mas muito menor que o Brasil que está, inclusive, dentro dela, embora minoritário (como se sabe, lá São Paulo é imensamente maior que o Brasil).

Bolsonaro é uma “overdose”, cujo maior demérito é ter despertado a esporulação de grupos fascistas, que não escondem os dentes sob a polida argumentação de “mercado”.

Resta inventar alguém ou esperar que Sérgio Moro e o Judiciário que se tornou seu séquito excluam Lula da eleição e, a cada dia, tirar Lula da eleição é como tirar a eleição para perto da metade dos brasileiros. E, com o risco de que ele jogue este peso, já então  de mártir, para outro é ainda pior, porque o tornará um murmúrio a se espalhar na multidão.

Este texto foi originalmente publicado no site Tijolaço.