Por Fernando Brito
Cada frase da reportagem de Fernando Canzian, na Folha, é uma tragédia, a começar pelo próprio título: Fome no Brasil supera média global e atinge mais as crianças. A taxa [dos brasileiros a quem faltou meios para comprar comida saltou de 17% em 2014 para 36% no final de 2021; Entre as mulheres, a taxa chegou a 47%; e a 45% para as pessoas com idades entre 30 e 49 anos; Entre os 20% mais pobres brasileiros, 75% responderam afirmativamente se havia faltado dinheiro para a compra de alimentos nos últimos 12 meses.
E olhe que os dados, apurados pelo Instituto Gallup e sistematizados pela Fundação Getúlio Vargas, são do final do ano passado e, só até abril o Índice de Preços da Alimentação, subgrupo da inflação medida pelo IBGE, já avançou 7%. Ponha aí o gás de cozinha – para quem ainda usa o fogão a gás, e você terá condições de entender que isto ficou muito pior.
É a realidade do segundo maior produtor de alimentos do mundo: mais de um terço de seus cidadãos com fome, ainda que os intelectuais a prefiram chamar de “insegurança alimentar”.
Não adianta discutir isso apenas com programas de transferência de renda pois, mal ou bem tivemos e temos auxílios sendo praticados – e devem ser.
Mas sem crescimento econômico isso será inútil, como tem sido, enquanto nossa elite discute “polarização” e a sua escolha sempre difícil entre termos um desenvolvimento inclusivo e aquela fantasia de domésticas indo para a Disney.
A pessoas estão indo para as pilhas de ossos e filas de cestas básicas, que a rara caridade, a que ainda sobrevive dos tempos em que andou “prestigiada”, é capaz de lhes dar.
É assim o “Deus, Pátria e Família” que invocam, esquecendo de acrescentar: e fome também.
(Texto originalmente publicado em TIJOLAÇO)