Dez graphic novels indispensáveis. Por Luísa Gadelha

Atualizado em 4 de julho de 2016 às 21:53

Foi-se o tempo em que histórias em quadrinhos eram coisa de criança ou se resumiam a aventuras de super-heróis. Um gênero à parte, as graphic novels são histórias fechadas, possuindo tanta densidade e complexidade quanto um romance ou qualquer outra obra literária, com a diferença de que são ilustradas, podendo trazer mais expressividade aos personagens.

A diferença entre graphic novel e histórias em quadrinhos é que as últimas podem ser também tirinhas, ou sequenciais, como as clássicas Mafalda e Turma da Mônica. Existem, ainda, os mangás, que são os quadrinhos japoneses, muitos dos quais deram origem aos animes (animação japonesa).

Geralmente, as graphic novels possuem edições caprichadas, de capa dura, maiores que um livro comum, com papel e desenhos de melhor qualidade. No Brasil, o mercado de quadrinhos ainda está se expandindo, pouco a pouco, com poucos títulos traduzidos para o português. Selecionamos dez obras fundamentais.

Maus (Art Spiegelman)

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A história é narrada pelo pai do autor, Vladek, que conta a própria experiência durante o holocausto, ao lado da esposa. Na obra, os judeus são retratados como ratos e os nazistas como gatos. Art Spiegelman consegue relatar a complexidade da personalidade do seu pai, que passou por adversidades para sobreviver em Auschwitz. O livro foi publicado em duas partes, em 1986 e, em seguida, em 1991. Foi a primeira graphic novel a ganhar o Prêmio Pulitzer de literatura.

Persépolis (Marjane Satrapi)

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Da iraniana Marjane Satrapi, Persépolis é autobiográfica e conta a infância e adolescência da autora no Irã e sua estada na Europa. Marjane vinha de uma família politizada e teve dificuldades quando, aos dez anos de idade, se viu obrigada a usar o véu islâmico. Na adolescência, rebelde, comprava fitas cassetes de astros do pop/rock, embaralhando as culturas do ocidente e do oriente. A saga termina com a chegada da vida adulta de Marjane. O livro virou filme francês em 2007, tendo concorrido ao Oscar de melhor animação.

O Espinafre de Yukiko (Frédéric Boilet)

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O Espinafre de Yukiko inaugurou La nouvelle manga, um movimento que tentou unir quadrinhos franceses e belgas com o mangá japonês. A história se passa no Japão, onde o narrador em primeira pessoa, o próprio Boilet, conhece a jovem Yukiko, que está interessada em outra pessoa. Yukiko decide passar um curto intervalo de tempo ao lado de Boilet, enquanto espera pelo outro rapaz. Apesar da história simples, a trama é contada de forma delicada e sutil, com destaque para os pequenos detalhes do corpo e da personalidade de Yukiko, e tem um leve tom de erotismo.

Daytripper (Fábio Moon e Gabriel Bá)

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Dos irmãos gêmeos Fábio Moon e Gabriel Bá, os primeiros brasileiros a ganharem o prêmio Eisner de quadrinhos, em Daytripper somos apresentados a Brás de Oliva, escritor de obituários, e os momentos mais importantes de sua vida: seu primeiro beijo, o nascimento de seu filho, ou quando se descobre escritor. Em cada grande momento, há uma reviravolta inesperada. A pergunta que fica é se há um momento decisivo na vida de cada pessoa.

Asterios Polyp (David Mazzucchelli)

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Asterios é um renomado professor de arquitetura, egocêntrico, arrogante, pedante e conhecido como “arquiteto de papel” porque, apesar do sucesso e dos livros publicados, seus projetos nunca foram construídos. A história começa no aniversário de 50 anos de Asterios, quando seu apartamento pega fogo e, a partir daí, rememora o passado com sua esposa, a jovem e tímida artista plástica Hana. A palheta de cores, os traços e os balões são diferenciados para cada personagem (azul e reto para Asterios, rosa e curvilíneo para Hana).

Habibi (Craig Thompson)

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Depois do aclamado Retalhos (vencedor do prêmio Eisner de melhor escritor e melhor graphic novel em 2004), Craig Thompson lançou Habibi (2011), produzido a partir de um projeto ambicioso, desde o traço sinuoso com elementos da caligrafia árabe ao roteiro, reunindo elementos da cultura islâmica e do universo das Mil e Uma Noites. A saga de Habibi não se passa em nenhum país conhecido e conta a história de dois escravos fugitivos, Dodola e Zam. A crítica social e a religião perpassam a história de ambos, repleta de desventuras e mostrando que várias maneiras de amor são possíveis.

Palestina (Joe Sacco)

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O jornalista Joe Sacco fez uma espécie de documentário gráfico em Palestina: relata, em quadrinhos, com traços realistas, momentos vividos durante sua estada de dois meses em territórios ocupados por Israel em 1996. Lá, ele coletou depoimentos dos refugiados nas ruas, escolas e hospitais, reproduzindo os conflitos diários, a violência e os traumas, difíceis de digerir, aos quais o povo palestino está exposto.

Fun Home (Alison Bechdel)

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Mais uma graphic novel autobiográfica, Alison rememora a infância juntamente com a família, que possuía uma casa funerária (daí o Fun Home), e a relação com o pai, que era homossexual não assumido e se suicidou pouco depois de Alison revelar sua própria homossexualidade. É da autora que vem o Teste de Bechdel, aplicado geralmente com o objetivo de definir se um filme, livro ou série é machista. Recentemente, Fun Home virou musical da Broadway.

Watchmen (Alan Moore)

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Publicada em 12 volumes entre 1986 e 1987, Watchmen se passa durante a Guerra Fria, em 1985, e mostra um grupo de pessoas comuns, fantasiadas, que se auto-intitulam super-heróis (vigilantes) e tentam fazer justiça com as próprias mãos. Os vigilantes possuem seus próprios defeitos e neuroses, muitas vezes brigando entre si e discutindo dilemas morais. Para além do que é ser um super-herói (“Who watches the watchmen?”), questões políticas e econômicas também são discutidas. Foi adaptado para o cinema em 2009.

Logicomix (Apostolos Doxiadis)

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Uma breve história da lógica moderna sob a visão do filósofo britânico Bertrand Russell. Além de mostrar elementos pessoais da vida de Russell, somos apresentados a Frege, Wittgenstein, Gödel e outros grandes nomes da lógica no século XX e seus impasses. Apesar de uma pouco confusa, a HQ é acessível para leigos no assunto e chega a emocionar e desafiar o leitor com seus paradoxos.