Dificuldades, medo e deportações: os relatos de brasileiros nos EUA sob Trump

Atualizado em 13 de outubro de 2025 às 12:09
Trump prepara deportações em massa a partir de terça-feira (21) | InvestNews
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Foto: Reprodução

A política migratória do governo de Donald Trump reacendeu o medo entre brasileiros que vivem nos Estados Unidos. A promessa de deportações em massa e o aumento das fiscalizações deixaram comunidades inteiras em alerta.

Relatos ouvidos pela Folha de S.Paulo de homens e mulheres em diferentes estados mostram como o cotidiano de quem busca uma vida melhor no país passou a ser marcado por tensão, apreensão e incerteza.

Brasileira é presa durante entrevista de imigração

Uma cineasta brasileira que vive em Los Angeles desde 2018 foi presa no mês passado durante uma entrevista no serviço de imigração para obter o green card, documento que garante residência permanente nos EUA. Casada com um americano, ela foi detida antes mesmo da conclusão do processo e permanece em situação indefinida.

O caso aumentou o medo entre brasileiros em situação regular e irregular, principalmente em comunidades na Califórnia e em Massachusetts, onde o controle migratório se intensificou após o retorno de Trump à presidência.

“Meu marido emagreceu 11 quilos na prisão”

Uma mulher de 35 anos, que trabalha como faxineira e cozinheira em Massachusetts, relatou que o marido foi preso por agentes da imigração em julho e deportado ao Brasil após quase dois meses detido. “Ele emagreceu 11 quilos porque não conseguia comer o alimento oferecido nas prisões”, contou.

O casal havia deixado o Brasil em 2021, alegando ameaças de morte, e entrou nos EUA pela fronteira com o México. Mesmo tentando viver discretamente, ela diz que o medo é constante.

“Ele sempre se sentiu mal pela forma como viemos, mas tínhamos que arriscar. Agora, minha filha de 8 anos está apavorada e eu tenho medo de sair de casa”, desabafou.

A imagem mostra um confronto entre manifestantes e um policial. O policial, vestido com um uniforme tático e máscara, está em primeiro plano, segurando um equipamento de proteção. À sua frente, um grupo de manifestantes, alguns com guarda-chuvas, está segurando um cartaz que diz 'HATE DEPORT MAGA'. O ambiente parece ser uma área urbana, com fios elétricos visíveis ao fundo.
Um agente federal em confronto com manifestantes enquanto um carro sem identificação tenta entrar no centro de detenção do ICE de Broadview, Illinois. Foto: Jim Vondruska/Reuters

“Fiquei uma semana sem sair, com medo da imigração”

Um homem de 25 anos, morador da Califórnia, vive há dois anos nos Estados Unidos e teve o visto expirado em 2023. Ele trabalha em uma concessionária e como motorista de aplicativo, mas afirma que já interrompeu as corridas por medo de ser parado por agentes federais.

“Fui para casa com o coração na mão. Imaginei que eles não fossem ficar só um dia. Disse: ‘Não vou voltar, não vou arriscar minha vida’”, relatou.

Segundo ele, muitos imigrantes deixaram de frequentar locais públicos e agora monitoram grupos de mensagens que alertam sobre a presença de agentes de imigração. “Antes eu acompanhava um site que mostrava onde eles estavam, mas parei. Caso contrário, você não vive”, disse.

“Meu vizinho brasileiro desapareceu”

Outro homem, de 37 anos, fotógrafo que vive na Flórida, decidiu deixar os EUA após seis anos por medo das novas medidas de Trump. Casado e com um filho pequeno, ele afirma que a família entrou com um pedido de green card, mas o prazo de resposta foi ampliado de 44 meses para oito anos.

“A gente tem começado a experienciar as pessoas desaparecerem, literalmente. Meu vizinho brasileiro desapareceu”, contou. Ele afirma que a esposa não sai mais de casa e que vive em alerta constante. “Meu filho nasceu aqui e tem cidadania americana, mas vivemos com medo de sermos obrigados a sair do país.”

“Mesmo com visto, não me sinto seguro”

Outra mulher, de 38 anos, que vive em Nova York com visto de trabalho regular, diz que o clima de insegurança se espalhou até entre quem está com toda a documentação em dia.

“Nunca estive uma hora sequer nesse país sem nenhum documento, mas a gente fica apavorado porque esse cara [Trump] está revogando vistos do jeito que quer”, afirmou.

Ela conta que grupos de brasileiros se organizam em aplicativos para alertar sobre operações migratórias e trocam informações sobre regiões mais arriscadas. “Podemos estar com tudo em dia, mas isso não garante nada”, disse.