Dilma, Levy e o jornalismo político. Por Kiko Nogueira

Atualizado em 2 de dezembro de 2016 às 17:36
Eles
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“Às vezes, há notícias na sarjeta”, escreveu o New York Times numa espécie de pedido de desculpas por publicar detalhes do adultério de John Edwards, ex-senador do Partido Democrata dos EUA. O jornal sabia que estava publicando fofocas. Fofocas do poder, de alto gabarito — mas, não obstante, fofocas.

O disse me disse da crônica política brasileira chegou às raias do surrealismo com o novo imbroglio Dilma/Levy. Na semana passada, o ministro da Fazenda fez uma palestra na Universidade de Chicago, onde estudou. “Acho que há um desejo genuíno da presidente de acertar as coisas, às vezes não da maneira mais fácil, mas… Não da maneira mais efetiva, mas há um desejo genuíno”, falou. Em inglês, aliás.

O que isso significa? Trocando em miúdos, nada.

Mas a frase provocou um frisson absolutamente desproporcional na imprensa. A não ser por quem queira enxergar uma rusga, uma desavença, uma quebra de confiança, uma crise, enfim, o que Levy quis dizer foi exatamente o que afirmou. Como gosta FHC, é uma platitude.

No entanto, ele acabou tendo que dar explicações. Foi “um mal-entendido” e “não há nenhuma desafinação” com a presidência. Divulgou uma certa “manifestação pessoal” criticando o que chamou de “grande banzé”. Relatou o óbvio: “muitas vezes, se trabalha sobre pressões, e nem tudo acontece do jeito que a gente desejaria, do jeito ideal, do jeito mais perfeito e que as coisas são, portanto, difíceis”.

Mais tarde foi a vez de Dilma comentar a não-notícia. “Em política, vocês sabem que às vezes eu não posso seguir um caminho curto porque eu tenho de ter o apoio de todos aqueles que me cercam. Então, tem a questão de construir consensos. Eu acho que é nesse sentido que ele falou e não tem por que criar maiores complicações por isso”, disse ela.

A conversa de bastidores do Planalto é um filão que tem, hoje, “especialistas” como Ricardo Noblat, com suas fontes fantasmas e a capacidade de criar intrigas palacianas fantásticas entre lulistas e dilmistas, e Jorge Bastos Moreno, de O Globo.

No meio da boataria, oportunistas como Serra foram ouvidos. Para ele,  a declaração de Joaquim Levy “corrói ainda mais a credibilidade do governo”. O próprio Levy interrompeu o publicitário, animador de eventos e protocoxa João Doria Jr. num evento da Lide. Doria, idealizador de um encontro num hotel com empresários, se sentiu à vontade para exercer sua falta de educação em público. “É duro ser ministro de um governo como o da dona Dilma”, falou. “Não é verdade. Discrepo, discrepo, tá certo? Discrepo”, atalhou Levy.

Se há algo a ser realmente esclarecido nessa história toda é como Joaquim Levy ouve um bocó útil como João Doria Jr sem perguntar que xampu esquisito ele usa.