Luciana Genro fala ao DCM sobre a crise e as saídas para ela

Atualizado em 5 de agosto de 2015 às 19:53
Ela
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Militando ao lado do seu partido PSOL contra a redução da maioridade penal e as manobras de Eduardo Cunha no Congresso, Luciana Genro disse que “o Brasil precisa de um novo junho de 2013”.

Ela acredita que a mobilização social pode gerar pautas mais concretas do que os eventos difusos de dois anos atrás.

Luciana também não crê que Dilma Rousseff vai cair, aposta na queda do presidente da Câmara, Eduardo Cunha, e defende a manifestação de rua como uma resposta crítica à corrupção.

O DCM conversou com ela sobre esses assuntos e também sobre a Lava Jato e o depoimento da advogada Beatriz Catta Preta, que afirmou que se sentiu ameaçada pela CPI da Petrobras.

Luciana, você afirmou que é necessário um “novo junho de 2013” com pautas claras. Como mobilizar as ruas com movimentos de direita presentes?

Não acredito que haja tantos movimentos de direita nas ruas. O que existe é gente de direita, e gente muito confusa sendo dirigida por lideranças da direita. Mas eles não têm um movimento social organizado.

Até porque nunca foi a tradição da direita se organizar em movimentos sociais. Não estou subestimando o fato de que a situação política está polarizada, mas creio que a mobilização é a melhor forma de responder ao ajuste fiscal e à corrupção. Precisamos de um novo junho com um programa claro de mudanças estruturais.

O ideal neste momento de crise seria uma Assembleia Popular Constituinte, já eleita a partir de novas regras. Ela seria eleita sem o dinheiro das empreiteiras e a desigualdade que caracteriza a disputa eleitoral. Isso só será possível se as ruas exigirem tais mudanças.

A senhora acredita que o governo Dilma cai antes do fim do segundo mandato?

Não creio que a Dilma caia, exceto se surgir algo muito claro que a envolva pessoalmente na corrupção, o que eu não penso que vá ocorrer. Dilma não vai cair porque a burguesia não tem interesse em derrubá-la, o que traria ainda mais instabilidade e dificuldades para implementar o ajuste econômico. O que eles querem, e já têm, é um governo fraco, rendido e disposto a aplicar as medidas que garantam superávit. Isso para seguir pagando os juros da dívida e sustentando os lucros dos bancos e grandes especuladores.

O movimento da direita em 16 de agosto pode amedrontar a esquerda? 

A nós não amedronta. Se eles querem disputar nas ruas, vamos lá.

Na sua opinião, quando o país voltará a crescer após esse ajuste fiscal? 

Esse ajuste fiscal vai afundar o Brasil. Vêm aí mais recessão, desemprego, arrocho salarial e deterioração dos serviços públicos. Após uns dois ou três anos pode voltar a crescer, mas sob a base de uma queda enorme. Isso prova que a política do PT foi um fracasso.

Não é porque eles gastaram demais, como diz o PSDB, mas por que eles não mexeram nas estruturas econômicas, como o problema da dívida pública. Eles mantiveram a mesma política econômica do PSDB, de submissão ao capital financeiro.

A política do PT não mexeu na estrutura tributária, mantendo privilégios aos bancos, acionistas e milionários que pagam pouco imposto. Também não mexeu na estrutura política, mantendo a lógica do toma-la-dá-cá, a corrupção e o aparelhamento do Estado.

Eduardo Cunha deve permanecer blindado após as recentes denúncias milionárias dele na Lava Jato?

Acho que Cunha vai acabar caindo. Ele não é só um homem de direita, mas sim um gângster da política. Ele tem sua serventia para a burguesia, no entanto pode ser descartado quando passa dos limites. Acho que ele já passou.

Qual é a sua opinião sobre o último depoimento da advogada Catta Preta e o futuro da Lava Jato? 

O depoimento da advogada mostra até onde Eduardo Cunha está disposto a ir para se proteger. Ele é um perigo. A Lava Jato não pode parar. A operação tem que seguir e desbaratar todos os esquemas que saqueiam as nossas estatais.

Como a senhora avalia o desempenho do PSOL diante dos desmandos de Cunha no Congresso? 

Nossa bancada fez o possível e o impossível. Somos poucos, mas muito atuantes e combativos. Muitas vezes nossos deputados são os únicos a se opor de forma veemente aos desmandos de Cunha e protagonizamos bons embates para contrapor sua agenda reacionária e de assistencialismo em relação aos parlamentares.

Nossos mandatos parlamentares são instrumentos de luta dos trabalhadores e estão à serviço das causas democráticas, como a luta das mulheres, dos negros, da juventude e da população LGBT.

Na avaliação da senhora, Michel Temer está tentando diminuir a atuação de Eduardo Cunha no PMDB? Ele tenta manter a governabilidade?

Me parece que os dois têm uma disputa de poder dentro do PMDB. Temer está mais empenhado em ajudar o governo a aplicar o ajuste contra o povo e Cunha, em criar dificuldades para vender facilidades.

Isto é, Eduardo Cunha quer dificultar a vida do governo para ganhar sua proteção no escândalo da Lava Jato. Ele está envolvido até o pescoço. Mas o governo está tão fraco que não consegue proteger nem os seus.

Posições como a do PSTU, e de movimentos como Movimento Negação da Negação (MNN), pedindo pelo Fora Dilma, enfraquecem a frente de esquerda no país? 

De qual frente de esquerda você fala? Frente de esquerda com o PT para mim não existe. Como poderia fazer frente de esquerda com o partido que aplica a política da direita? Que promove o desemprego e a retirada de direitos sociais ao mesmo tempo em que mantém os privilégios dos milionários e dos bancos?

O PSOL quer construir um terceiro campo, de oposição de esquerda ao governo Dilma e à direita.

Qual será o futuro político da senhora? Prefeitura de Porto Alegre em 2016? Presidência em 2018? E quais serão os próximos passos do PSOL? 

O PSOL vai seguir esta luta para construir o terceiro campo na política nacional, a oposição de esquerda e a resistência contra os retrocessos que Cunha tenta impor no Congresso Nacional.

Foi aprovada na Câmara, sob o patrocínio de Cunha, uma nova lei que, se confirmada pelo Senado, vai nos tirar dos debates eleitorais. Uma verdadeira Lei da Mordaça. Vamos lutar contra isso, buscando apoio com Deus e o Diabo para derrotar esta medida no Senado.

Eu estarei à disposição do PSOL para concorrer em 2016 à prefeitura de Porto Alegre, mas, se for prefeita, não abandonarei meu mandato para concorrer à Presidência.