A direita está no poder, mas o tema do debate é o projeto (e as alternativas) de esquerda. Por Luis Felipe Miguel

Atualizado em 18 de julho de 2017 às 5:51
O palanque e nomes são parte da discussão, não o todo.

PUBLICADO NO FACEBOOK DE LUIS FELIPE MIGUEL

Três vezes esquerda na Folha

Na edição de anteontem da Folha, Pablo Ortellado apresentou a ideia de que esquerda e direita no Brasil são “parecidas demais”. O texto divulga uma versão muitíssimo diluída da crítica da esquerda à adesão dos governos petistas a políticas pró-mercado. Tal como em parte dessa crítica, o julgamento é pouco matizado e unilateral. Ao contrário do ocorre nela, porém, a alternativa nunca é explicitada: são as “mudanças [de] que tanto precisamos”. Com isso, o foco do artigo fica numa defesa quase marinista da busca de uma nova via. No meio do caminho, a resistência ao desmonte dos direitos, fruto do golpe, é ridicularizada. Quaisquer que tenham sido as intenções do autor, o texto de Ortellado trabalha contra o pouco de resistência que se constrói no Brasil.

Hoje, Celso Rocha de Barros traz um artigo em que diz que a esquerda deve projetar um caminho para 2018 sem a candidatura de Lula. Num boa tirada, cita texto em que se diz que “a perda de Lula para a esquerda é como a perda de Neymar para a seleção brasileira às vésperas do jogo contra a Alemanha” – e comenta, em seguida, que isso pode ser verdade, mas a direita brasileira está longe de ser a Alemanha de 2014. Sua tese, em suma, é que é possível vencer sem Lula, trata-se apenas de escolher o nome certo.

Barros simplesmente aceita que a perseguição judicial contra Lula terá êxito e não acha importante ou produtivo resistir a ela. Páginas adiante, em entrevista, Fernando Haddad adota posição diferente. Ele é cauteloso e evita as armadilhas das perguntas. Faz defesa enfática da candidatura de Lula, não especula sobre plano B e diz que “o partido faz bem em confiar na reforma da sentença”. (No resto da entrevista, fala quase nada e, quando fala, é para reforçar a lenda de que o PSDB representava a modernidade conservadora na política brasileira.)

Mesmo o texto de Ortellado, que tem um registro diferente, assinala que o objetivo de sua nova via é permitir “controlar os políticos no jogo da política real e não no da ilusão que nos vendem para nos distrair”. Barros e Haddad, por sua vez, apostam integralmente no processo eleitoral. O ex-prefeito, quando ressalta a oposição ao lawfare contra Lula, coloca a questão em termos de “confiança” no judiciário, nunca de mobilização popular.

De um jeito ou de outro, permanecemos sempre aprisionados na jaula de ferro da política institucional.