Diretor da turnê dos Titãs conta como montou o show mais impactante do Brasil hoje

Atualizado em 13 de janeiro de 2024 às 17:09
Branco Mello canta “Cabeça Dinossauro” na turnê “Titãs Encontro”

Se existiu um grande acontecimento no showbiz brasileiro em 2023, foi com certeza a turnê Titãs Encontro, que reuniu seis dos nove membros da formação original de 1982.

Arnaldo Antunes, Branco Mello, Charles Gavin, Nando Reis, Paulo Miklos, Sérgio Britto e Tony Bellotto tocaram e emocionaram pelo menos 500 mil pessoas, com direito a algumas esticadas nos EUA e Europa.

A química dos shows foi turbinada por vários elementos da grande engenharia dos megaeventos: repertório ímpar, talento e carisma consolidados em 40 anos de estrada, marketing de alta qualidade e uma cenografia de impacto para encantar um público de todas as idades.

Os elementos cenográficos em um palco com cinco telões gigantes, usados pela primeira vez no país, somados a outras tecnologias, tornaram o espetáculo impecável.

Um dos responsáveis por esse incrível circo funcionar de forma tão precisa é Otavio Juliano, diretor artístico da turnê. Juliano é formado em cinema na Califórnia e tem no currículo, entre outros trabalhos de relevo, a direção do documentário “Sepultura Endurance”, além do recente show de Ivete Sangalo no Maracanã. Ele falou com o DCM:

Diário do Centro do Mundo: Você acha que os espetáculos cenográficos em grandes arenas mudaram sua configuração em função do consumo desenfreado de imagens nas redes sociais?

Otavio Juliano: A cenografia é parte de um objetivo maior. A criatividade consiste em buscar a sua “voz individual” como criador, diretor, e conciliar com a arte trazida pelos artistas com os quais vc está trabalhando. Em grandes arenas ou não, nesse cenário pós-pandemia, temos que aceitar que imagem é poesia em movimento. Procuro sempre por aquele momento, aquela imagem que o espectador vai levar para casa junto com a sua música favorita. A abertura do show “Titãs Encontro”, por exemplo, com as silhuetas dos sete no fundo branco.

A cenografia está em sua responsabilidade ou nesse processo os Titãs interferiram?

Foi uma troca criativa. A 30e, produtora do “Titãs Encontro”, sempre passou um briefing claro das expectativas do show e foi fundamental na execução. Em “AA UU”, por exemplo, temos o trabalho incrível da Carolina Martinelli, bailarina do Teatro Municipal de São Paulo com a qual tinha trabalhado anteriormente. Em “Bichos Escrotos”, imaginei um cenário à la “Metamorfose”, de Kafka, com ilustrações de Alexandre Telles.

A música e performance Titãs são inspiração pura, quando recebi o setlist do show não acreditei, que obra. Pudemos unir cinema, música, dança e poesia – uma combinação rara em um show de rock – devido a esses artistas. Tínhamos dez câmeras no palco.

O conceito Sound & Vision já é muito popular em shows internacionais. Temos capacidade e orçamentos para isso?

Acredito que “Titãs Encontro” foi um divisor de águas no cenário dos shows nacionais. Elementos cenográficos e maquinário foram trazidos de fora porque não existiam no Brasil. Em dezembro, fui um dos diretores criativos do show da Ivete Sangalo no Maracanã, comemorando os 30 anos de carreira.

Mais uma vez, a 30e trouxe equipamentos inéditos. Por exemplo, o vôo da Ivete veio da Europa. E a equipe criativa de Titãs Encontro estava presente também. Mais o trabalho incrível de Césio Lima e equipe na luz, coreografia com 30 bailarinos…

Ivete é uma artista completa, me surpreendi muito com ela. O show foi transmitido ao vivo, um desafio.

Na sua opinião, a música e os artistas ficaram menores em relação à dimensão desses megaespetáculos?

Os artistas crescem se o espetáculo for bem conduzido. Aproximamos o público do artista através das câmeras que transmitem pelos LEDs a possibilidade de que em qualquer lugar do estádio, o espectador se sinta acolhido e perto do artista. “Titãs Encontro” foi um show diferente a cada noite, por essa interação muitas vezes improvisada pelos artistas. Foquei em ressaltar cada artista individualmente. Os conteúdos visuais foram desenvolvidos a partir das características de cada um.

Por exemplo, o conteúdo de “Comida” e “Pulso” foi feito sob medida para o Arnaldo Antunes. “Cabeça Dinossauro” puxa a performance de Branco Mello e Charles Gavin. “Polícia” destaca Sérgio Britto. Paulo Miklos em “Estado Violência”, adoro. Nando Reis em “Jesus Não tem Dentes no País dos Banguelas”. “Diversão” inicia com Tony Bellotto sozinho na passarela. Fornecendo a base para artistas com esse nível de criatividade, eles voam. E, para homenagear Marcelo Fromer, colocamos um arco-íris no conteúdo visual casado com as luzes, além de imagens do saudoso guitarrista em “Toda a Cor”. Estive presente em quase todos os shows, sempre buscando desafiar o dia anterior.

Você vai propor um documentário da turnê “Titãs Encontro”?

Seria interessante…Sepultura Endurance” foi um desafio. Eu e Luciana Ferraz fizemos um documentário a quatro mãos. Artesanal, com calma. Foram mais de mil horas de material gravado. Esse estilo de documentário “cinema verité”, em que a história se desenvolve enquanto você filma, me interessa muito. É trabalhoso, mas extremamente satisfatório.