Diretora do Fed anuncia processo contra Trump após demissão

Atualizado em 26 de agosto de 2025 às 14:01
Lisa Cook e Donald Trump. Foto: Divulgação

A economista Lisa Cook, diretora do Federal Reserve (Fed), anunciou que vai entrar na Justiça para contestar sua demissão pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. A medida foi confirmada por seu advogado, Abbe Lowell, em comunicado divulgado nesta segunda-feira (25) e obtido pelo portal CNBC.

Segundo a defesa, Trump não tem autoridade para remover membros do Conselho de Governadores do Fed, cuja independência é garantida por lei. Ele justificou o afastamento alegando “justa causa”, com base em uma suposta fraude hipotecária que não resultou em denúncia formal.

“Sua tentativa de demiti-la, baseada apenas em uma carta de recomendação, não possui qualquer fundamento legal ou factual. Entraremos com uma ação judicial contestando essa ação ilegal”, declarou Lowell. Cook também reagiu em nota: “O presidente Trump alegou ter me demitido ‘por justa causa’ quando não há justa causa prevista em lei, e ele não tem autoridade para fazê-lo”.

A crise abre um impasse jurídico sobre a autonomia do banco central americano. Em 2020, a Suprema Corte flexibilizou a proteção de chefes de agências independentes ao permitir a demissão do diretor do Bureau de Proteção Financeira do Consumidor, mas ministros destacaram que o Fed ocupa posição única e pode ter salvaguardas adicionais.

Caso Cook permaneça no cargo durante a disputa judicial, o governo deve recorrer ao tribunal. Desde que reassumiu a presidência, Trump pressiona o Fed a reduzir os juros e já fez ataques públicos ao presidente da instituição, Jerome Powell.

Embora tenha cogitado afastá-lo, acabou recuando. Na semana passada, chegou a ameaçar Cook de demissão caso ela não renunciasse, após acusações de fraude feitas por uma autoridade de habitação de sua administração. A economista disse que não se deixaria intimidar.

A diretora do Federal Reserve (Fed, banco central dos EUA), Lisa Cook. Foto: Divulgação

Lisa Cook fez história em 2022 ao se tornar a primeira mulher negra nomeada para o Conselho do Fed, indicada pelo então presidente Joe Biden. Doutora em economia pela Universidade da Califórnia, Berkeley, e com passagem pela Universidade de Oxford, construiu carreira acadêmica e profissional de destaque.

Foi assessora econômica no governo Barack Obama, atuou no Departamento do Tesouro e participou de missões internacionais de recuperação, como em Ruanda após o genocídio de 1994. A trajetória de Cook sempre esteve ligada a pesquisas sobre desigualdade e impactos sociais da economia.

Fluente em cinco idiomas, ela investigou como discriminação racial e crises econômicas afetam comunidades pobres nos Estados Unidos. Ao assumir a cadeira no Fed, passou a defender políticas monetárias mais cautelosas diante da inflação elevada no período pós-pandemia.

Trump anunciou a decisão de afastá-la pelas redes sociais, citando supostas irregularidades no financiamento de imóveis. Segundo ele, Cook teria declarado duas residências como principais para obter condições melhores de crédito.

Até o momento, não há investigação formal que confirme a acusação. A defesa classifica o movimento como parte de uma ofensiva do republicano contra a independência do banco central.

O mandato de Cook vai até 2038. Analistas avaliam que a disputa pode levar outros diretores do Fed a resistirem a pressões políticas, transformando o conselho em um órgão ainda mais parecido com a Suprema Corte, em que os membros só deixam os cargos ao fim de seus mandatos ou quando há alternância de poder partidário.

Guilherme Arandas
Guilherme Arandas, 27 anos, atua como redator no DCM desde 2023. É bacharel em Jornalismo e está cursando pós-graduação em Jornalismo Contemporâneo e Digital. Grande entusiasta de cultura pop, tem uma gata chamada Lilly e frequentemente está estressado pelo Corinthians.