“Discurso de Lula deve ser lido com atenção em Washington”, diz ex-embaixador dos EUA no Brasil

Atualizado em 19 de setembro de 2023 às 16:51
Thomas Shannon, ex-embaixador dos Estados Unidos no Brasil. Foto: Reprodução

O presidente Lula discursou como um “estadista do século XXI” e mandou recado a Washington, capital americana, na abertura da Assembleia-Geral da ONU (Organização das Nações Unidas), segundo Thomas Shannon, ex-embaixador dos Estados Unidos no Brasil e ex-secretário para o Hemisfério Ocidental do Departamento de Estado americano. O petista foi o primeiro a se pronunciar no evento nesta terça (19).

“Lula discursou como um estadista do século XXI, e o que ele disse deve ser lido com muito cuidado e atenção em Washington e no resto do mundo. Lula fez alertas sobre o que vem por aí”, afirmou ao jornal O Globo.

Ele avalia que o presidente trata da guerra entre Rússia em Ucrânia pensando em questões globais, como a crise de segurança alimentar e energética. “Lula não quer falar sobre poder, mas sim sobre os desafios que o mundo enfrenta, como a desigualdade”, prossegue.

O embaixador americano classifica o discurso de Lula como “valioso” e da autoria de um “estadista que entende o Sul Global”. Shannon ainda acredita que o pronunciamento de Lula é um recado para a China e para os Estados Unidos.

“O Brasil está tentando lembrar aos EUA e o China que eles não são os únicos países do mundo, e que o mundo não permitirá que o futuro seja capturado por uma disputa estratégica entre ambos. Está frisando esse alerta”, finaliza.

Brian Winter, editor-chefe da Americas Quarterly, também exaltou o presidente brasileiro pelo discurso e afirmou que o pronunciamento “foi de um presidente de um poder regional, e sim de um poder global”. Ele avalia que o petista foi “ambicioso” ao falar durante o evento.

Lula durante discurso na Assembleia-Geral da ONU. Foto: Michael M. Santiago/Getty Images

O embaixador Rubens Barbosa, ex-chefe da sede diplomática do Brasil em Washington, destacou que Lula destoou de quase todos os chefes de Estado na Assembleia-Geral da ONU nas últimas duas décadas.

“Antes, os discursos tinham foco no público interno, eram relatórios sobre o que acontecia no Brasil. Lula, pela primeira vez, fala sobre o lugar do Brasil no mundo, sobre o que o Brasil aspira e como pode contribuir para alcançar objetivos”, aponta.

O ex-presidente Jair Bolsonaro também é citado nos elogios ao petista. Segundo Renata Segura, subdiretora para a América Latina do centro de estudos Crisis Group, Lula “tentou desfazer o dano causado pelo governo de Jair Bolsonaro e recuperar o papel central do Brasil no mundo, mas deixando claro que o fará seguindo suas próprias regras”.

O ex-secretário especial de Assuntos Estratégicos da Presidência da República e pesquisador da Universidade Harvard Hussein Kalout afirma que o discurso foi “sóbrio, equilibrado, consistente e conjugado com os princípios da Constituição e os valores universais da política externa brasileira”.

Para ele, o petista “restaurou a dignidade ao discurso do Brasil na ONU após os calamitosos discursos do presidente Bolsonaro nos 4 anos anteriores”. “Não faltou nada na minha visão. Ademais, foi perspicaz ao excluir da centralidade do discurso o conflito da Ucrânia e ao reiterar o compromisso do Brasil com o direito internacional”, completa.

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Caique Lima
Caique Lima, 27. Jornalista do DCM desde 2019 e amante de futebol.