‘Discurso de Bolsonaro fortalece a banalização da agressão contra a mulher’, diz pesquisadora. Por Débora Fogliatto

Atualizado em 14 de janeiro de 2019 às 11:10
Pâmela Stocker menciona que, para além do discurso, posições de Bolsonaro agora definem as diretrizes do governo | Foto: Arquivo pessoal

Publicado originalmente no site Sul21.

POR DÉBORA FOGLIATTO

Na primeira semana de 2019, foram registrados pelo menos 21 casos  e 11 tentativas de feminicídio no Brasil. Como geralmente ocorre nesse tipo de crime, na maioria deles o agressor mantinha alguma relação com a vítima, seja como marido, namorado ou ex-namorado. Apenas em dezembro do ano passado, o Ligue 180 registrou denúncias de 391 mulheres agredidas por dia no Brasil.

Ao mesmo tempo em que os números são alarmantes, o governo de Jair Bolsonaro (PSL) anunciou nesta quarta-feira (9) que retiraria a pauta da igualdade entre homens e mulheres e do combate à violência contra a mulher dos livros didáticos. Após pressão popular, o Ministério da Educação voltou atrás e cancelou a portaria que determinava as alterações nas regras para o material.

Em seu material de campanha, Bolsonaro só mencionava a temática da violência contra a mulher ao mencionar o estupro. Ou seja, nenhuma palavra sobre agressões domésticas e feminicídio – termo que, aliás, ele não apoia. Quando deputado, o agora presidente votou contra a Lei do Feminicídio, aprovada em 2015, que determina a tipificação dos assassinatos de mulheres relacionados ao fato de serem mulheres. Durante a campanha eleitoral de 2018, milhares de mulheres em todo o país se uniram contra a candidatura de Bolsonaro no movimento que ficou conhecido como “ele não”.

Também em 2018, quando questionado sobre o assunto, Bolsonaro disse acreditar que as mulheres prefeririam ter ‘uma arma na bolsa’ à lei do feminicídio, acrescentando ser a favor de 30 anos de prisão para quem mata “sem motivo”. Ao longo dos anos, ele ganhou antipatia do eleitorado feminino por suas declarações machistas, tendo inclusive dito à deputada Maria do Rosário (PT), em 2014, que “não a estupraria” porque ela “não merece”.

Ao mesmo tempo, ele defende a castração química para estupradores, a qual comprovadamente não resolveria o problema da violência contra a mulher. Declarações e ações como essas, propagadas por alguém que agora se encontra na presidência da República, acabam gerando o fortalecimento da “cultura de toda herança da banalização da agressão contra a mulher”, conforme avalia a doutora em Comunicação e Informação Pâmela Stocker.

Integrante do coletivo Aquenda- Núcleo de Estudos em Comunicação, Gêneros e Sexualidades, Pâmela pesquisa justamente a respeito dos discursos relacionados à violência contra a mulher. Em 2016 e 2017, ministrou o curso de extensão ‘Gêneros, Sexualidades e Comunicação: desconstruindo normatividades e refletindo dissidências’, na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), instituição onde também obteve seu mestrado e doutorado.

“A gente vem numa luta para que haja uma mudança de valores e comportamento e esse tipo de discurso vai reforçar a manutenção daqueles velhos padrões machistas e patriarcais, que de alguma forma acabam autorizando e até justificando que alguns crimes sejam cometidos”, aponta ela. Ao mesmo tempo, levando em conta que Bolsonaro já está na presidência do país, Pâmela menciona que neste momento não se trata apenas de discurso, e sim de ações de governo, o que é ainda mais preocupante.

“Já no governo [de Michel] Temer temos a extinção da Secretaria de Políticas  para as Mulheres (SPM), que na época foi incorporada ao Ministério de Direitos Humanos, e agora um novo ministério, que é das Mulheres, Família e Direitos Humanos. Então não é mais só o discurso, temos aí um novo posicionamento de governo que está ligado à justamente fortalecer essa banalização das agressões, de olhar para isso como ‘mimimi’, como algo sem importância”, destaca.

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