
A guerra comercial entre Estados Unidos e China, intensificada pelas tarifas impostas por Donald Trump, está transformando o Brasil na maior superpotência global da soja. Desde maio, Pequim suspendeu totalmente a compra do grão americano em retaliação às medidas de Washington, arruinando produtores no Meio-Oeste dos EUA e abrindo espaço para o domínio brasileiro. Segundo a The Economist, a China, principal cliente do setor, passou a depender majoritariamente da soja nacional.
Com o embargo, as exportações brasileiras devem atingir 110 milhões de toneladas em 2025 — o maior volume da história — compensando as perdas impostas por tarifas sobre carne e café brasileiros. O Brasil já havia ampliado sua fatia no mercado chinês durante o primeiro mandato de Trump, saltando de 50% para 75% das compras do país asiático. Agora, o cenário de ruptura total entre Washington e Pequim consolida o país como fornecedor estratégico.
Nos Estados Unidos, os efeitos são devastadores: fazendeiros de Illinois enfrentam falências, e Trump prepara um pacote de ajuda de US$ 10 bilhões ao setor. Já na China, processadores da província de Shandong lidam com custos mais altos para produzir ração animal e óleo de cozinha. Apesar disso, o governo chinês mantém o embargo, reforçando o papel do Brasil como principal exportador.

A valorização da soja brasileira também é impulsionada pela supersafra recorde de 2025. Após a crise logística e ambiental dos últimos anos, o país ampliou suas áreas de plantio para 49 milhões de hectares e investe em infraestrutura portuária e ferroviária para reduzir gargalos históricos. Analistas apontam que, se essas obras forem concluídas, o Brasil poderá superar definitivamente os Estados Unidos em competitividade.
Enquanto isso, Trump e o presidente chinês, Xi Jinping, devem discutir o impasse na cúpula da Apec, na Coreia do Sul, no fim de outubro. Mesmo que o embargo seja suspenso, especialistas estimam que as tarifas sobre a soja americana — atualmente de 23%, contra 3% sobre a brasileira — continuarão garantindo vantagem ao Brasil por pelo menos mais um ciclo agrícola.
Segundo Daniel Furlan Amaral, da Abiove, o sucesso brasileiro também se deve à qualidade do produto: a soja nacional tem maior teor de proteína e abastece uma crescente indústria interna de biocombustíveis. “O Brasil uniu volume, eficiência e demanda doméstica. O mundo está dependente do nosso grão”, afirmou.