Disputa no PL Antifacção revela estratégia do PT contra Centrão e extrema-direita

Atualizado em 16 de novembro de 2025 às 6:37
Lula (PT) falando e gesticulando, sério
O presidente Lula (PT) – Reprodução

A disputa em torno do PL Antifacção escancarou a estratégia do PT e do governo Lula para enfrentar votações sensíveis no Congresso. Com minoria diante do centrão e da oposição bolsonarista, o Planalto tem apostado em campanhas coordenadas nas redes sociais para pressionar parlamentares e influenciar a opinião pública, reproduzindo o modelo que barrou a PEC da Blindagem. Com informações da Folha de S.Paulo.

A reação foi mobilizada após aliados apontarem que o relator Guilherme Derrite (PP-SP) poderia fragilizar a Polícia Federal e beneficiar investigados, tese que passou a circular fortemente em grupos ligados ao PT.

O movimento gerou efeito imediato: Derrite recuou de pontos centrais, como a tentativa de limitar a atuação da PF e a proposta de equiparar facções a terrorismo. A votação foi adiada, e o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), precisou defender a PF publicamente. Paralelamente, a Secretaria de Comunicação do Planalto divulgou vídeos explicando o texto do relator e reforçando críticas, enquanto ministros foram escalados para sustentar o discurso de que o relatório fragilizaria o combate ao crime organizado.

Oposicionistas afirmam que a estratégia do governo está ligada ao cenário eleitoral de 2026 e acusam o PT de fomentar um clima de confronto com o Congresso para obter ganhos políticos de curto prazo. Deputados lembram que a tática já foi usada em debates como o tarifaço de Donald Trump, a anistia do 8 de Janeiro e a isenção do Imposto de Renda. Para parte da direita, porém, a mobilização em torno do PL Antifacção não rompeu a bolha da esquerda e não se compara ao impacto da PEC da Blindagem.

Guilherme Derrite. Foto: Lula Marques/Agência Brasil

Para aliados do governo, a disputa também ajudou o Planalto a se recompor em uma área sensível: a segurança pública. Depois da operação policial no Rio, que deixou 121 mortos, e das críticas às falas de Lula, o embate com Derrite serviu para reorganizar a narrativa, reforçar a autoridade da PF e desgastar adversários. Deputados da base dizem que o governo acertou ao adotar discursos de soberania, justiça e defesa das instituições.

Internamente, a crise expôs fragilidades de Derrite e de Motta. Parlamentares do centrão afirmam que o relator falhou na comunicação e acabou visto como alguém que tentava “tutelar” a PF, uma instituição com alta credibilidade. O desgaste também atingiu Motta, cuja condução foi criticada por parte dos próprios aliados, que viram improviso e falta de coordenação.

Mesmo com o recuo de Derrite, líderes governistas avaliam que a ofensiva gerou efeito e deve ser replicada em disputas futuras. Já articuladores próximos de Motta alertam que atacar o Congresso pode ter custo elevado e que o governo, em algum momento, precisará recompor pontes com o Legislativo para evitar derrotas mais profundas.