Diversos ministros de Bolsonaro fraudaram currículo, mas só Decotelli será punido porque é negro

Atualizado em 29 de junho de 2020 às 17:23
Weintraub e Damares mentiram sobre seus currículos, mas não foram punidos por isso

O professor Carlos Alberto Decotelli provavelmente não assumirá o Ministério da Educação. O currículo do indicado para substituir Abraham Weintraub é todo furado.

Ele inventou um doutorado na Universidade Nacional de Rosário, na Argentina, e um pós-doutorado na Universidade de Wuppertal, na Alemanha.

Na Argentina, sua tese de doutorado foi reprovada liminarmente. Na Alemanha, fez uma pesquisa de três meses, sem adquirir nenhum título na universidade.

A posse do ministro, que estava marcada para esta terça (30), foi cancelada e o presidente Jair Bolsonaro exigiu uma “rechecagem” do currículo do professor à Abin (Agência Brasileira de Inteligência).

Decotelli, contudo, está longe de ser o único ministro de Bolsonaro que mentiu nessa área.

A ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos, Damares Alves, declarou ser “uma advogada”, “mestre em educação” e “em direito constitucional e direito da família”.

Desmentida em janeiro de 2019, informou que seu mestrado era “bíblico”.

Ricardo Salles, ministro do Meio Ambiente, afirmou em artigo publicado em 2012 que obteve o título de mestre em direito público na Universidade Yale, nos Estados Unidos.

Após o Intercept Brasil revelar que Salles nunca botou os pés na universidade, ele atribuiu o “erro” à sua assessoria de imprensa.

O currículo do colombiano Ricardo Vélez Rodríguez, primeiro ministro da Educação do governo Bolsonaro, continha ao menos 22 erros.

Apareciam livros atribuídos a ele, que na verdade não eram de sua autoria, além de obras listadas fora do formato padrão, e artigos publicados em periódicos que não são científicos.

Já o sucessor de Vélez no MEC, o fugitivo Abraham Weintraub, publicou o mesmo artigo em duas revistas, prática classificada como autoplágio.

Bolsonaro informou que Weintraub era doutor ao anunciá-lo para comandar a pasta, mas o ex-ministro nunca obteve este título.

Qual é o verdadeiro critério do governo Bolsonaro para demitir ministros?

O filósofo Silvio Almeida afirma que “mentir no currículo tem consequências devastadoras quando se é negro”.

“Quando se é branco você pode ser um jurista medíocre, um economista alienado, um ‘filósofo’ delirante; pode mentir que estudou em Yale ou Harvard ou que tem doutorado, ser plagiador que isso será absorvido”, diz Silvio.

Mas se você for negro será cobrado por cada gesto que fizer no dia seguinte à exposição do seu ato. Sempre vão lembrar do que você fez e de que você também é um negro. E você será abandonado na estrada”.