Divórcio entre lavajatismo e bolsonarismo isola Bolsonaro. Por Helena Chagas

Atualizado em 23 de setembro de 2019 às 10:55
Presidente Jair Bolsonaro em cerimônia no Palácio do Planalto, no dia 24 de julho – Evaristo Sa/AFP

PUBLICADO NO DIVERGENTES

POR HELENA CHAGAS

O divórcio entre o bolsonarismo e o lavajatismo, ao que parece irreversível, está produzindo impactos políticos que vão desaguar nas eleições municipais do ano que vem e em 2022. Com sua interferência nos órgãos de controle a alianças no Congresso e no STF com o objetivo de blindar a própria família, Jair Bolsonaro vai perdendo rapidamente o discurso anticorrupção. Seu partido, o PSL, constituído por um bando heterogêneo de neófitos eleitos sobretudo sob essa bandeira, vai virando Sonrisal – ou seja, derretendo. Os aliados de Bolsonaro se dividem, e lutam agora para disputar a bandeira que o presidente da República deixou cair.

O processo de desagregação da base político-eleitoral bolsonarista teve como ato mais recente a retirada do apoio da bancada do PSL na Assembléia Legislativa do Rio ao governador Wilson Witzel, por ordem da família Bolsonaro. Se, para o governador, é um estrago perder a maioria  a Alerj, para o presidente da República também não é nada vantajoso se ver, com apenas nove meses de governo, às turras com os governadores dos dois principais estados do país. Mas Witzel, declaradamente candidato a presidente, pode manter a narrativa do combate à corrupção e, em seu estado, às milícias.

Pela mesma razão – a disputa presidencial de 2022 -, Bolsonaro distanciou-se do governador de São Paulo, João Doria. Pagará o seu preço. Aliás, todos eles pagarão por antecipar tanto uma disputa que só se dará daqui a mais de três anos e sofrerá a influência de diversos outros fatores, como a economia. Doria está até pegando leve nas declarações sobre o presidente, mas faz de tudo para se diferenciar dele em atos na área dos costumes e em afirmações relativas a direitos e à democracia.

Acima de tudo, o que se vê nesse momento é a clara divisão da direita que chegou ao poder em 2018. Ainda na cena do PSL, o penúltimo ato foi a saída da senadora Selma Arruda do partido depois de ter sido pressionada pelo colega Flavio Bolsonaro a retirar sua assinatura do requerimento de criação da CPI da Lava Toga. Não retirou, e ainda recebeu o apoio explícito de uma das principais lideranças da legenda em São Paulo, o major Olímpio – outro que, dependendo das circunstâncias, pode abandonar o partido e a base bolsonarista.

Quem ganha com as dissidências do PSL? A oposição, é claro. Mas, sobretudo, outros partidos alojados no poder mas sem comprometimento maior de imagem com Bolsonaro, como, por exemplo, o DEM de Rodrigo Maia e Davi Alcolumbre, os comandantes do Congresso. Que, aliás, se dão muito bem com João Doria e não são inimigos de Witzel. E têm hoje boa parte da força no Legislativo. Enquanto Bolsonaro vai atirando para todos os lados e se isolando politicamente, outras forças de direita e centro-direita vão tecendo em torno dele uma rede para imobilizá-lo.