Do Femen ao bolsonarismo: relembre a trajetória de Zambelli, presa na Itália

Atualizado em 29 de julho de 2025 às 18:35
Carla Zambelli e o ex-presidente Jair Bolsonaro. Foto: reprodução

A prisão de Carla Zambelli (PL-SP) na Itália nesta terça-feira (29) marca o capítulo mais recente da trajetória turbulenta da ex-deputada, que transitou do ativismo de rua ao núcleo duro do bolsonarismo antes de acumular condenações que totalizam 15 anos de prisão. Este é o relato detalhado de sua ascensão e queda na política brasileira.

As origens: do ativismo feminista aos protestos de 2013 (2011-2015)

A trajetória pública de Zambelli começou em 2011, quando fundou o grupo Nas Ruas e participou ativamente dos protestos contra o governo Dilma Rousseff (PT). Curiosamente, antes de se tornar ícone da direita, a parlamentar integrou o movimento feminista Femen em 2012. O grupo ficou conhecido por protestos com topless de militantes como Sara Winter, que também converteu-se ao bolsonarismo.

Sara Winter e Carla Zambelli militando pelo coletivo Femen. Foto: reprodução

“Aqueles episódios foram o despertar. Tínhamos feito manifestações no 7 de Setembro de 2011 e 2012, mas em 2013 foi diferente”, relembrou Zambelli em entrevista anos depois sobre sua participação nos protestos.

O ponto de virada ocorreu em outubro de 2015, quando liderou um grupo que se acorrentou no Salão Verde da Câmara. “Nós fizemos manifestações em massa… Queremos que o Cunha acolha o impeachment”, declarou na época, em ação que acelerou o processo contra Dilma.

Carla Zambelli durante protestos em 2013. Foto: reprodução

A ascensão meteórica no bolsonarismo (2018-2021)

Eleita deputada federal por São Paulo em 2018 com a onda bolsonarista, Zambelli rapidamente se tornou uma das vozes mais radicais do governo Bolsonaro. Assumiu como vice-líder do governo no PSL e presidiu a Comissão de Meio Ambiente, surpreendendo aliados e adversários.

Em fevereiro de 2020, seu casamento com o coronel Aginaldo de Oliveira ganhou destaque nacional por ter Sergio Moro como padrinho – relação que duraria pouco. O rompimento veio meses depois, quando Moro divulgou conversas onde Zambelli sugeria negociar indicações na PF.

Sergio Moro discursando como padrinho de casamento de Zambelli. Foto: reprodução

Os escândalos e a queda (2022-2025)

O ano de 2022 marcou o início da derrocada. Reeleita como a terceira mais votada do país (946.244 votos), Zambelli viu sua imagem ser manchada por dois episódios:

– O incidente da arma em outubro de 2022, quando perseguiu o jornalista Luan Araújo no bairro Jardins, zona nobre de São Paulo. “Carla Zambelli tirou o mandato da gente”, afirmou Bolsonaro posteriormente. O episódio aconteceu na véspera do eleição e, segundo seguidores do ex-presidente, foi crucial para a derrota no pleito.

Com arma na mão, Zambelli perseguiu o jornalista negro Luan Araújo em SP. Foto: reprodução

– A condenação por invadir sistemas do CNJ para criar um mandado falso contra Alexandre de Moraes. “Não havia prova idônea”, alegou sua defesa, sem sucesso.

Em 2025, acumulou:
– 5 anos por porte ilegal de arma
– 10 anos por invasão ao CNJ
– Cassação do mandato por propagar fake news

Zambelli e o hacker Walter Delgatti. Foto: reprodução

A fuga e a prisão na Itália

Em 25 de maio de 2025, Zambelli deixou o Brasil alegando tratamento médico, estabelecendo-se na Itália – onde tem cidadania. Sua prisão nesta terça-feira ocorre após:

1. Pedido formal de extradição pelo Brasil
2. Inclusão na lista vermelha da Interpol
3. Localização em apartamento em Roma por autoridades italianas

Especialistas apontam que o processo de extradição pode ser complexo devido à dupla cidadania, mas o tratado bilateral entre os países prevê cooperação em casos criminais.