Do gesto da ‘arminha’ à associação da palavra ‘Messias com a luta de Jesus’: quem é o delegado que jogou Bolsonaro nas cordas. Por José Cássio

Atualizado em 18 de outubro de 2019 às 20:02
Delegado Waldir com Bolsonaro

Pouca gente sabe, mas a história mostra que pode ser real o sentimento de ingratidão que o delegado Waldir passou a nutrir por Jair Bolsonaro.

Além de ser um de seus mais dedicados seguidores, o líder do PSL deu ao capitão dois de seus principais motes de campanha: o gesto da ‘arminha’ feito com as mãos, que sempre usou em suas campanhas, e, talvez até mais significativo, o trocadilho que relaciona a palavra Messias, contida no sobrenome de Jair, à luta de Jesus, largamente utilizado nos eventos com eleitores evangélicos e que foi mote do discurso de posse de Bolsonaro.

Em Goiânia, onde iniciou a carreira na polícia civil, Waldir é conhecido como ‘delegado maluquinho’. Sua fama é de não ter medo de nada. Certa vez causou alvoroço na cidade ao prender um tenente da PM por porte ilegal de arma.

Waldir negou-se a soltar o militar e acabou comprando briga com a corporação.

O 8º DP foi cercado por 100 viaturas e milhares de policiais que exigiam a libertação do colega. Depois de horas de negociações, Waldir decidiu abrir a cela, o sargento pode sair e o delegado tinha conquistado a fama que o levaria em três oportunidades a grandes votações à câmara dos deputados, por PSDB, PR e por fim PSL.

“O que posso dizer é que se trata de alguém autêntico”, disse ao DCM o deputado estadual Major Araújo, também do PSL, um dos principais aliados e que se prepara para concorrer à prefeitura de Goiânia no ano que vem contra Iris Rezende, aliado de Ronaldo Caiado e pivô da briga entre Waldir e o governador de Goiás.

Gracinha Caiado, mulher do governador, procurou Waldir no mês passado para reclamar das pretensões de Major Araújo. O líder do PSL não gostou e foi reclamar com o governador.

Para piorar, na semana passada Waldir descobriu que Caiado estava do lado de Bolsonaro na pendenga do PSL. Foi a gota d´água para romperem.

Na Câmara, Waldir é descrito como um parlamentar de postura independente, imprevisível e até mesmo “sem noção”.

Muitos imaginavam improvável que se tornasse o líder da segunda maior bancada na Casa, com 53 deputados. Mas diante do batalhão recheado de nomes em primeira legislatura, foi relativamente fácil que ele conseguisse se sobrepor aos colegas inexperientes.

Virou a pedra no sapato do capitão e filhos.

Os que o conhecem não estão surpresos.

“Ele sempre foi independente e corajoso”, diz a advogada e ativista política Silvana Marta, que acompanha Waldir deste os primeiros passos na vida pública.

“Pode escrever aí: está nascendo uma grande liderança política em Goiás muito graças ao enfrentamento que ele assumiu nesta semana. Bolsonaro sabe que deve a ele os dois principais motes de sua campanha, o gesto da ‘arminha’ e a associação da palavra ‘Messias com a luta de Jesus’. A ingratidão, em política, é uma sentença de morte”.

É obvio que a novela não terminou e que Waldir ainda terá de comer muito feijão se quiser se transformar em gente de verdade. Mas o estrago que fez na vida do capitão reformado mostra que o ‘delegado maluquinho’ veio para ficar.

Pelo menos enquanto a balbúrdia estiver estabelecida no país.