Do mercado aos feudos digitais: ex-ministro grego diz que big techs enterraram o capitalismo

Atualizado em 19 de julho de 2025 às 15:24
Mão segurando celular com logo de grandes empresas de tecnologia
Imagem ilustrativa – Reprodução

O economista e ex-ministro das Finanças da Grécia Yanis Varoufakis afirma que o capitalismo de mercado está morto e foi substituído por um novo sistema, que ele chama de “tecnofeudalismo”. Segundo ele, governos ao redor do mundo, inclusive o brasileiro, financiaram esse processo sem perceber, ao investir recursos públicos em infraestrutura tecnológica que hoje sustenta o poder das big techs.

Em seu livro “Tecnofeudalismo: O Que Matou o Capitalismo”, lançado no Brasil em 2025 pela Editora Crítica, Varoufakis argumenta que empresas como Amazon, Google e Meta substituíram os mercados por feudos digitais e passaram a extrair rendas da chamada “nuvem” em vez de competir por lucros no mercado. O capital da nuvem, diz ele, não produz bens, mas modifica o comportamento dos consumidores para gerar renda contínua.

O ex-ministro defende que essas plataformas detêm meios de produção simbólicos, como algoritmos e redes sociais, que moldam desejos e direcionam o consumo. Ele afirma que, apesar de parecerem mercados abertos, esses ambientes são dominados por corporações que controlam tanto o espaço de troca quanto os dados gerados pelos usuários, sem retorno público.

O economista grego Yanis Varoufakis, 64, que foi ministro das Finanças da Grécia em 2015 e lançou, em 2023, o livro ‘Tecnofeudalismo: O que matou o capitalismo’ – Divulgação/Editora Crítica

Varoufakis também critica o papel do Estado, que investiu pesadamente em inovação tecnológica sem retorno à sociedade. Ele cita a própria internet e os smartphones como frutos de subsídios públicos que acabaram privatizados. Segundo ele, a esquerda contemporânea foca em soluções paliativas, como renda básica, sem atacar a raiz do problema: a concentração da propriedade sobre os meios digitais.

Ao comparar a lógica atual com o capitalismo clássico, o economista destaca que o modelo de empresas como a Amazon não depende mais da produção de bens, mas sim do domínio de ambientes digitais onde os consumidores estão presos. Para ele, isso marca uma ruptura com o sistema de lucros via produção e inaugura um regime de extração de renda comportamental.

Por fim, Varoufakis critica a ausência de propostas estruturais que enfrentem o tecnofeudalismo. Ele defende que medidas como a redução da jornada de trabalho e a renda básica devem ser passos em direção à socialização dos meios digitais de produção e comunicação. O economista se recusa a prever o futuro, afirmando que a prioridade é agir politicamente para evitar a consolidação de um sistema que aprofunde a desigualdade.