Documento mostra “extra” de US$ 5 por dose de vacina indiana. Por Fernando Brito

Atualizado em 3 de julho de 2021 às 19:37

Publicado originalmente em O Tijolaço

Complicaram-se ainda mais as suspeitas sobre a compra da Covaxin, a vacina indiana que está no centro da denúncia de que Jair Bolsonaro silenciou e prevaricou diante dos indícios de corrupção em sua operação de compra bilionária.

O Estadão publica, na edição de hoje, a reprodução – veja acima – de uma “Memória de Reunião” entre o coronel Élcio Franco, braço direito do general Eduardo Pazuelo e de outros dirigentes do Ministério da Saúde à época, com executivos da Bharat Biotech e da intermediária Precisa Medicamentos, onde se registra, expressamente, que a vacina (comprada em fevereiro a US$ 15) era oferecida por dois terços deste preço – US$ 10 – e podendo ainda, “em razão de eventual aquisição de montante elevado de doses, (…) poderia vir a ser reduzido e estaria aberto à negociação”.

A reunião resumida no documento ocorreu em 20 de novembro e, em janeiro, em outros documentos, o preço já havia sido elevado para US$ 15 por dose, sem qualquer explicação. Foi este o valor usado no contrato, em fevereiro, adquirindo 20 milhões de doses por R$ 1,6 bilhão.

Diz o jornal que a Precisa nega ter havido menção a preço de US$ 10, apesar do registro oficial. E o Estadão afirma ainda que a ordem de aquisição do imunizante indiano “partiu pessoalmente de Bolsonaro”.

A discrepância de valores é sugerida, segundo documentos obtidos pelo jornal, por “um despacho do Departamento de Imunização e Doenças Transmissíveis (DEIDT), do Ministério da Saúde, advertiu sobre a necessidade legal de realização de estimativa de preços”.

“Sugere-se ao Departamento de Logística (DLOG) que avalie a possibilidade de realizar negociação com o fornecedor, a fim de apurar melhores preços”, diz o documento, datado do dia 17 de janeiro. O DLOG, porém, não seguiu essa orientação, o que foi destacado no relatório do TCU. O departamento era chefiado até esta semana por Roberto Ferreira Dias, ligado ao líder do governo na Câmara dos Deputados, Ricardo Barros (Progressistas-PR). Ele foi demitido após as suspeitas de corrupção na compra de vacinas.

O negócio da China era o da Índia.