Publicado originalmente pelo Jornal da USP:
Por Ivanir Ferreira e Matheus Souza
Baixa escolaridade e desigualdades sociais são determinantes para elevação da taxa de transmissão e severidade da covid-19 no Brasil e, e em face dessa condição, seria necessário pensar em políticas sensíveis voltadas exclusivamente para a população em estado de vulnerabilidade. É o que sugere relatório produzido pela professora Laura Carvalho, do Departamento de Economia da Faculdade de Economia, Administração, Contabilidade e Atuária (FEA) da USP, em parceria com outras duas pesquisadoras, Luiza Nassif Pires, da Levy Economics Institute (LEI), e Laura de Lima Xavier, da Harvard Medical School (HMS). O estudo foi elaborado a partir de dados de 2013 da Pesquisa Nacional de Saúde (PNS), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
(…) Desigualdades de acesso aos sistemas de saúde
Para a pesquisadora brasileira, tais evidências preocupam ainda mais pelas desigualdades de acesso aos sistemas de saúde. Os dados da PNS indicaram que, entre os 20% mais pobres, 94% não tinham plano de saúde, embora 10,9% se autoavaliassem com saúde regular, ruim ou muito ruim. Entre os 20% mais ricos, esses índices eram de 35,7% e 2,2%, respectivamente. O número disponível de leitos de Unidade de Tratamento Intensivo era quase cinco vezes inferior para os usuários do Sistema Único de Saúde (SUS) – 1,04 leito por 10 mil habitantes – do que para quem tem acesso à rede privada – 4,84 leitos por 10 mil habitantes.
Diante desse quadro que mostra evidências de que a pandemia pode atingir de maneira desigual pessoas mais vulneráveis, a pesquisadora brasileira defende que sejam pensadas políticas públicas específicas para esse grupo. Nesse sentido, Laura Carvalho recomenda que a renda básica aprovada recentemente no Congresso Nacional seja liberada o mais rapidamente possível para garantir à população algum meio de subsistência – e a possibilidade de permanecer em casa com menos risco de ser infectada pela covid-19. Além dessa proposta, Laura Carvalho também é favorável à realocação de leitos do sistema privado de saúde e destinação maior de recursos para o SUS.
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