Dois meses depois da prisão do reitor da UFSC, a Veja tenta lavar as mãos na tragédia. Por Kiko Nogueira

Atualizado em 14 de novembro de 2017 às 15:23
A matéria da Veja

Nesta terça, dia 14, completam-se dois meses da prisão do reitor Luis Carlos Cancellier.

Na edição desta semana, a Veja resolveu dar oito páginas sobre o assunto e uma carta ao leitor intitulada “Os erros e a tragédia”.

A matéria “Crônica de um suicídio” questiona a atuação da Polícia Federal, do Ministério Público e da Justiça Federal na tragédia que culminou no suicídio de Cancellier.

Uma chamada menciona “os erros de investigação que humilharam o reitor da UFSC.”

A reportagem não traz nada que você não tenha lido no DCM, a não ser a história de um garçom que teria encontrado o reitor e recebido um beijo de adeus.

“Não há no inquérito nenhum indício ou acusação de que o reitor fosse membro do ‘esquema criminoso’, nem mesmo a descrição do que poderia vir a ser esse ‘esquema criminoso'”, lê-se.

A Veja tenta limpar a barra depois de transformar policiais federais e procuradores em super herois chefiados pelo semideus Sergio Moro. Sempre exaltou os poderes plenipotenciários das “autoridades”.

Ao longo dos últimos quatro anos de Lava Jato, deu alentado espaço para o punitivismo e a egolatria dessa gente. Em agosto, por exemplo, Dallagnol aparece afirmando que “a revisão de prisões é algo catastrófico”. 

Foram algumas capas com Moro, todas elas laudatórias. 

Numa entrevista de 2015, a delegada Erika Mialik Marena declarava o seguinte à revista: “Acreditamos que o que foi produzido até aqui no âmbito da investigação policial tem consistência suficiente para levar a bons resultados no futuro”.

“A operação já é uma referência”, garante.

Erika é a coordenadora da operação Ouvidos Moucos, que investigava Cancellier. Em dezembro, aceitou convite para se transferir de Curitiba para a Superintendência de Santa Catarina. O nome Lava Jato é atribuído a ela.

Mandou prender Cancellier. Depois questionou a soltura dele, determinada pela juíza Marjorie Cristina Freiberger. De acordo com Erika, ele tentava “obstaculizar (sic) investigações internas”.

O ex-senador e advogado Nelson Wedekin fez um belíssimo discurso na solenidade fúnebre em tributo a Cancellier.

“Não se passa o país a limpo assim, senhores e senhoras. Digo de novo o que já escrevi: os senhores, as senhoras, estão jogando o bebê fora junto com a água do banho”, falou.

Wedekin acusou “uma imprensa que primeiro atira e só depois pergunta quem vem lá, quando e se pergunta. Uma imprensa que toma como verdadeira, em princípio, a palavra da autoridade, não mediada, não contextualiza”.

Continuou: “De blogueiros, ativistas e pessoas ‘comuns’ que, raivosos, expelem argumentos chulos, pensamentos prontos, clichês preconceituosos, manifestações de atraso, ignorância, e ódio, muito ódio nas redes sociais. Mãos de quem confunde moral com moralismo de baixo custo, que a todos rotula, por método, costume e um certo prazer sádico”.

As mãos da Veja estão sujas do sangue de Cancellier e não há água ou tinta que consigam lavá-las. A crônica é de um assassinato e a Veja é cúmplice.