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Dois pesos e duas medidas nas cobranças do mercado a Lula. Por Helena Chagas

Lula e Fernando Haddad (Foto: Ricardo Stuckert)

Por Helena Chagas

Será que alguém esperava que o governo Lula não tirasse as estatais da lista de privatizações? Isso era tão certo quanto o fato de Jair Bolsonaro estar a essa hora comendo frango frito em Orlando. O discurso de posse em que Lula falou da “estupidez” do teto de gastos para, em seguida, dizer que tem responsabilidade, também não fugiu ao padrão que marcou a campanha. Fernando Haddad, por sua vez, tem feito pronunciamentos mais do que equilibrados em suas poucas horas como ministro da Fazenda.

Por que então os chiliques do mercado?

Alguns de seus representantes chegam inclusive a apontar uma falsa derrota de Haddad na questão das isenções tributárias dos combustíveis, inaugurando, desde já, a suposta – e esperadíssima – disputa entre o novo ministro da Fazenda e a ala política-petista do governo. Como se Haddad, ele próprio um político do PT,  tivesse se tornado neoliberal da noite para o dia. Estaria, no mínimo, do lado errado, segundo a narrativa corrente. Afinal, o espetáculo que a plateia quer assistir é seu embate com Simone Tebet, a nova ministra do Planejamento.

Na verdade, a medida provisória que Lula assinou prorrogando por 60 dias essas isenções – com exceção dos casos do gás e do diesel, isentos até o fim do ano – não representou vitória de ninguém, a não ser do bom senso. Estabeleceu prazo para retirada do subsídio, que será preparada. Tempo também para se discutir a nova política de preços dos combustíveis. Evita-se, assim, impacto maior na inflação.

Haddad não perdeu nem ganhou, assim como ninguém até agora – exceção talvez de investidores que caíram na conversa da insegurança. Esta foi enriquecida por cobranças de que não basta, a um ministro da Fazenda que assumiu literalmente anteontem, prometer apresentar ao país uma nova âncora fiscal ainda no primeiro semestre do ano. Deveria já tê-la detalhado, cobram essas vozes.

O que as absurdas cobranças a um governo que completa hoje 72 horas mostram é que boa parte do establishment continua a usar dois pesos e duas medidas em relação a inquilinos do Planalto. Muitos dos que exigem hoje posicionamentos de Lula e Haddad fingiram não ver quando Bolsonaro fez gato e sapato da responsabilidade fiscal.

O que nos leva a concluir que, nessa parte do universo, continua tudo igual. Do outro lado da oscilação do dólar e das bolsas, muita gente, como sempre, especulando e ganhando.

Publicado originalmente em Jornalistas pela Democracia

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