Dono do Master, banqueiro preso dizia ter ‘proteção de amigos’ em Brasília

Atualizado em 19 de novembro de 2025 às 19:14
O banqueiro Daniel Vorcaro. Foto: Divulgação

Antes de ser preso pela Polícia Federal, o banqueiro Daniel Vorcaro, dono do Banco Master, dizia em conversas reservadas que só havia conseguido avançar no setor financeiro graças à sua rede de contatos em Brasília. Cpm informações do Globo.

Segundo relatos de pessoas próximas, ele costumava afirmar que tinha “fortes amigos” na capital e que, no Brasil, “não tem como andar se não tiver esse tipo de proteção”. Para ilustrar essa percepção, contava episódios envolvendo autoridades e aliados políticos.

Em um desses relatos, Vorcaro dizia que, durante tratativas com o BRB, o governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha, teria buscado referências sobre ele com um aliado e recebido comentários positivos.

De acordo com a versão do banqueiro, esse apoio teria facilitado a operação de 12,2 bilhões de reais entre o banco público e o Master, operação que a PF aponta como resultado de “pura camaradagem”. Para os investigadores, o objetivo era reduzir a fiscalização do Banco Central sobre a instituição em crise.

Ibaneis Rocha nega toda a narrativa. O governador afirma que encontrou Vorcaro apenas “uma ou duas vezes em eventos sociais” e que nunca tratou de operações bancárias com ele. O advogado Roberto Podval, que representa o banqueiro, classificou a prisão como “desnecessária e ilegal”.

A defesa do Master não comentou as declarações atribuídas ao empresário. Entre os aliados políticos que circulavam ao lado de Vorcaro estava o senador Ciro Nogueira, descrito como amigo do banqueiro.

Em 2024, Nogueira propôs elevar o limite de indenização do Fundo Garantidor de Créditos para investimentos em bancos com dificuldades, medida que beneficiaria diretamente o Master. O projeto não avançou após pressão do mercado.

O senador Ciro Nogueira. Foto: Divulgação

A relação com o partido de Nogueira apareceu novamente quando o Banco Central sinalizou resistência à compra do Master pelo BRB. Na ocasião, o deputado Cláudio Cajado articulou uma proposta que permitiria ao Congresso destituir diretores do BC.

A iniciativa ganhou apoio de diversas siglas, mas acabou abandonada após nova reação negativa do mercado financeiro. Outro contato relevante era o presidente do União Brasil, Antônio Rueda. Os dois se conheceram em eventos sociais e estreitaram relações.

Nesse período, o Master recebeu 2,6 bilhões de reais do Rioprevidência, fundo controlado politicamente pelo partido. Rueda nega ter influenciado qualquer operação envolvendo o banco. Vorca­ro também buscou apoio de figuras influentes de diferentes governos.

Contratou o ex-ministro da Fazenda Guido Mantega, que abriu portas no Executivo federal e o aproximou do presidente da República. Além disso, contou com consultorias de Michel Temer e Henrique Meirelles. O ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, integrou o comitê consultivo do Master depois de se aposentar do Supremo, antes de voltar ao governo.

O banco intensificou a contratação de serviços jurídicos e técnicos. Em 2024, gastou 580 milhões de reais nessas despesas, aumento de 75% em relação ao ano anterior. Entre os escritórios contratados está o Barci de Moraes, onde trabalha a esposa do ministro Alexandre de Moraes. O escritório, porém, não atua no Supremo.

Para reforçar sua presença em Brasília, Vorcaro comprou uma mansão de 36 milhões de reais em um condomínio de luxo com vista para o lago Paranoá. O imóvel virou ponto de encontro de políticos e empresários. Em entrevista à revista Piauí, o banqueiro disse que sua visão sobre a política se tornou “menos preconceituosa” à medida que se aproximava desse círculo de poder.

Guilherme Arandas
Guilherme Arandas, 27 anos, atua como redator no DCM desde 2023. É bacharel em Jornalismo e está cursando pós-graduação em Jornalismo Contemporâneo e Digital. Grande entusiasta de cultura pop, tem uma gata chamada Lilly e frequentemente está estressado pelo Corinthians.