
O ex-técnico da Seleção Brasileira de Vôlei Bernardo Rezende, o Bernardinho, trocou o PSDB pelo Novo e é dada como certa sua candidatura ao governo do Rio de Janeiro.
O movimento de Bernardinho é o resultado das articulações de um setor do poder econômico brasileiro que tem o objetivo de colocar na arena da política nomes que, aparentemente, não tenham nenhum vínculo com a política tradicional.
Uma forma de manter o velho com o fisionomia do novo. Bernardinho, por exemplo, já emprestou seu nome para candidatos como Aécio Neves e tem vínculo com o grupo do senador tucano. Onde a novidade?
Não são só amigos, têm negócios juntos. Bernardinho é sócio de Alexandre Accioly na rede de academias Bodytech. Em 2012, quando foi inaugurada a filial da academia em Salvador, lá estava ele, ao lado do sócio antigo e dos sócios locais, entre eles Renata Magalhães Correia, irmã do prefeito ACM Neto.
Alexandre Accioly Amoêdo é amigo e operador de Aécio Neves, segundo relato do ex-vice-presidente da Odebrecht, Henrique Serrado do Prado Valladares, em delação premiada.
Segundo ele, uma conta de Accioly em Cingapura recebeu 50 milhões de reais destinados ao senador e presidente do PSDB, como propina pelo contrato bilionário para a construção da usina de Santo Antônio e Girau, no rio Madeira, em Rondônia.
Por conta desta delação, o sócio de Bernardinho estaria negociando os termos de uma delação premiada.

A relação do ex-técnico da Seleção de Vôlei com Accioly mostra que, por trás do tal Partido Novo, está a velha estrutura política do Brasil, que sempre dá um jeito de se apresentar como novidade.
E muita gente acredita.
Um caso das eleições de 2016 em São Paulo mostra a velha prática sob o discurso novidadeiro.
O partido conseguiu uma vaga na Câmara Municipal, com Janaína Lima, uma das militantes do Vem Pra Rua.
Sua eleição foi surpreendente principalmente para o gabinete do vereador Nelo Rodolfo, líder do PMDB.
A mãe de Janaína, experiente em eleições, coordenava a campanha de Nelo Rodolfo na região sul e escondeu que a filha também era candidata.
Ela recebia da equipe de Nelo, que era vereador pela terceira vez e tinha sido deputado federal.
Contados os votos, viu-se que onde Nelo teve menos votos, a filha da coordenadora foi bem.
O vereador perdeu a eleição e não fala sobre isso.
Mas, no seu círculo mais próximo, todos dizem que parte da campanha de Janaína foi bancada com recursos da campanha dele.
A traição é tão antiga quanto a política, mas o que chama a atenção, no caso do Novo, é que o discurso é de uma prática diferente.
Coloca Bernardinho na vitrine e se mantêm os saqueadores de sempre agindo no porão.
O Novo faz a mesma coisa que o MBL, com uma diferença: seus militantes, em geral, têm melhor escolaridade e são mais discretos.
Em São Paulo, apesar de contar com um único vereador, é o Novo que ganha mais espaço no governo de Doria — o prefeito é, na prática, o tipo ideal do partido: é político, mas se diz gestor, fala em modernidade, mas a prática é do atraso, diz que combate a corrupção, mas queima quem, de fato, se opõe a ela.
O Novo é como Dorian Gray, o personagem do romance de Oscar Wilde. Mergulhou em uma vida de práticas que podem ser consideradas imorais. Mas não perde a beleza.
Quem envelhece e exibe os traços do sofrimento é o seu retrato. Talvez não seja exagero dizer que Dorian Gray é o Novo e o retrato, o velho PSDB.
Ou, em outras palavras, Bernardinho e Doria são o Novo. Aécio, que já foi o novo, o retrato velho. No fundo, são a mesma coisa.