Doria chama Kassab para “cevar” a direita atrasada e vai manter Alckmin na Sibéria. Por José Cássio

Atualizado em 7 de novembro de 2018 às 6:16
RODRIGO GARCIA, JOÃO DORIA E GILBERTO KASSAB DURANTE ANÚNCIO DOS NOVOS SECRETÁRIOS. Foto: Divulgação

“Ele vai até a Sibéria quebrar umas pedrinhas e depois volta”.

No entendimento de tucanos próximos a João Doria, a nomeação de Gilberto Kassab para a secretária da Casa Civil do novo governo de São Paulo ainda não é a pá de cal que se pode imaginar sobre Geraldo Alckmin.

É, digamos, uma espécie de purgatório, para quem, note como a política pode ser ingrata, passou de traído a traidor em menos de dois anos.

Geraldo “inventou” Doria em novembro de 2015.

Imaginando estar preparando o terreno para a sua candidatura a presidente, o então governador de São Paulo desenhou dois desafios: fazer o novo prefeito e contar com o apoio político e da máquina administrativa da maior cidade do país e isolar José Serra, seu adversário dentro do próprio partido.

Você talvez ache exagerado da minha parte, mas fui um dos primeiros a tomar conhecimento sobre o “plano gestor”. Era Natal de 2015 quando meu celular tocou.

Meu interlocutor não queria desejar boas festas, mas contar sobre a aventura que estava despontando.

“O Geraldo está sabendo?”, eu logo quis saber.

O desfecho da história é conhecido.

Geraldo tratorou Serra, FHC e cia, desidratou a pré-candidatura de Andrea Matarazzo e surfou na onda do surpreendente desempenho do pupilo – Doria ganhou no primeiro turno e alavancou diversas outras candidaturas país afora: o PSDB venceu em 14 das 19 cidades onde disputou o segundo turno.

A partir daquela eleição, 26 dos 92 maiores municípios brasileiros passaram a ser administrados pelo partido. Nada menos que 19,9 milhões de eleitores nas principais metrópoles brasileiras.

Geraldo, o então grande vitorioso, podia esperar tudo, menos a ganância desmedida do pupilo.

No dia primeiro de janeiro de 2017, uma hora após ser empossado prefeito, Doria lançou-se à corrida presidencial, sem considerar o acordo que firmara meses antes.

Fez o diabo, mas não alcançou seu objetivo. E, para piorar, ainda viu Geraldo fazer corpo mole quando tentou emplacar sua candidatura ao governo do Estado como plano B.

É nesse ponto que o caldo desandou para o ex-governador. Sem emplacar como candidato a presidente, apostou em Márcio França no primeiro e sobretudo no segundo turno contra o próprio partido.

Errou duas vezes e acabou revertendo a definição que colocamos no início do texto, passando de traído a traidor.

E agora vê um de seus principais inimigos, Gilberto Kassab, para quem perdeu a prefeitura de São Paulo, em 2008, alçar a posição de todo poderoso da articulação política do novo governo.

No círculo íntimo de Doria o que se fala sobre Geraldo é que vai amargar um tempinho no ostracismo até que se resolvam as pendências da Executiva nacional e até que a bile do gestor se estabilize.

Uma das características mais apontadas do governador eleito é pensar e agir com o figado.

Não aceitou ser preterido da disputa pela presidência, inclusive porque alega que ficou provado que o discurso que defendia – contra o PT e contra a ameaça comunista – era o que estava correto, e ainda atribui a Geraldo a dor de barriga que passou no segundo turno.

Com Kassab no comando da Casa Civil, distribuindo benesses e controlando a direita atrasada que chegou à Assembléia, com PMs, Coronéis, Janaínas e etc, Doria estará livre para fazer o que gosta: política.

Para alguém como ele, que pensa e age com o fígado, não vai sobrar tempo para lamber ferida de derrotado. A temporada na Sibéria não vai terminar tão cedo.