Doria compromete vacinação em janeiro ao adiar divulgação de eficácia da Coronavac contra covid-19

Atualizado em 23 de dezembro de 2020 às 20:28

Publicado originalmente na Rede Brasil Atual

Por Rodrigo Gomes

Doria e a coronavac. Foto: Divulgação/Governo de SP

O governo de João Doria (PSDB) adiou a divulgação dos dados de eficácia da vacina contra a covid-19 Coronavac, que seriam anunciados hoje (23). É a segunda vez que a divulgação dos dados é adiada. A primeira foi em 15 de dezembro. O imunizante é produzido em parceria entre o Instituto Butantan e o laboratório chinês Sinovac, e deveria começar a ser aplicado na população em 25 de janeiro de 2021, mas com o segundo adiamento da divulgação dos resultados, a data de início da campanha agora é incerta. A justificativa foi que a Sinovac pediu mais 15 dias de avaliação antes de divulgar os dados.

Segundo o diretor-presidente do Instituto Butantan, Dimas Tadeu Covas, a vacina contra a covid-19 Coronavac, “atingiu o limiar de eficácia que permite a solicitação de uso emergencial”. Isso indica que o imunizante tem pelo menos 50% de eficácia, número significativamente inferior ao número atingido pela vacina da Pfizer (95%) e da Moderna (94%). Segundo Dimas, a Sinovac encontrou divergências nos dados de eficácia encontrados nos diferentes países onde a vacina é testada, por isso pediu para refazer a análise dos dados e uniformizar o índice de eficácia.

O novo revés coloca Doria em situação de descrédito. O governador já tinha anunciado o início da vacinação para 15 de dezembro. Não cumpriu. Anunciou que teria 46 milhões de doses da vacina até o final de dezembro. Não cumpriu. Apenas 10,8 milhões de doses vão chegar até 31 de dezembro (23,5% do anunciado). Anunciou que teria os resultados de eficácia da vacina em 15 de dezembro, não cumpriu. E agora adia mais uma vez o anúncio dos resultados de testes da vacina contra a covid-19 Coronavac.

Os estudos da fase 2 indicaram que 97% dos voluntários que receberam a vacina contra a covid-19 Coronavac produziram resposta imune, o que significa que o corpo deles reagiu ao imunizante. A vacina será aplicada em dias doses, com intervalo de 14 dias. Nas três fases do estudo não foram registradas reações adversas graves. A reação mais comum foi dor no local da injeção. A vacina não foi testada em crianças e mulheres grávidas, tendo sido aprovada para uso em adultos a partir de 18 anos e idosos.

Após a divulgação, os estudos serão encaminhados à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), que terá 10 dias para aprovar ou rejeitar o pedido de uso emergencial. O Ministério da Saúde manifestou a intenção de comprar 46 milhões de doses da vacina contra a covid-19 Coronavac e já se fala que a pasta deve aumentar o pedido para 100 milhões de doses. Na última segunda-feira (21) a Anvisa certificou as boas práticas de fabricação do laboratório Sinovac, após uma inspeção realizada no início de dezembro.

O secretário de Estado da Saúde, Jean Gorinchteyn, disse que apesar do adiamento na divulgação dos dados de eficácia da vacina contra a covid-19 Coronavac, está mantido o cronograma de vacinação, com início em 25 de janeiro.

Pandemia em São Paulo

Ontem (22), o Comitê de Contingência do Coronavírus anunciou que todo o estado de São Paulo terá uma fase vermelha temporária, nos dias 25, 26 e 27 de dezembro e 1, 2 e 3 de janeiro. Nesses dias, só os serviços essenciais poderão funcionar. Fora deles, segue valendo a atual fase amarela, menos restritiva.

A expectativa do é que isso seja suficiente para desacelerar a proliferação do novo coronavírus, diminuindo o número de novos casos, internações e mortes, que vem aumentando gravemente nas últimas quatro semanas. Especialistas em saúde, no entanto, duvidam da eficiência da medida.

O estado de São Paulo registrou 50.596 novos casos e 1.108 mortes causadas pela covid-19 na última semana (13 a 19 de dezembro). O crescimento do número de novos casos chegou a 55% e o de mortes a 41% no último mês. A taxa de ocupação de unidades de terapia intensiva (UTI) está em 62% no estado. Apesar da piora na situação, Doria tem evitado intensificar as medidas da quarentena e viajou ontem a Miami, de férias.

A repercussão das férias do tucano foi péssima tanto entre quem apoia as medidas de isolamento social quanto quem as critica. E Doria cancelou a viagem, anunciando sua volta a São Paulo no início da tarde de hoje. Oficialmente, o governador voltou porque o vice-governador, Rodrigo Garcia (DEM), testou positivo para o novo coronavírus, devendo ficar afastado das atividades cotidianas.