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Doria inventa coordenador de programa e mostra que não é só marqueteiro — é mitômano. Por Kiko Nogueira

Kobra, o “coordenador” de Doria que nunca foi

 

São Paulo ganhou um prefeito tão marqueteiro que já cruzou a linha da mitomania. Mitomania, caso você não saiba, é uma compulsão em mentir, também chamada de pseudologia fantástica.

Doria conseguiu anunciar um programa antes de ele existir e inventou o nome de um “coordenador” que nunca aceitou a tarefa.

Em sua cruzada contra a pichação — que, de resto, vai dar em nada, é mais fácil acabar com os pernilongos, mas encanta os iludidos —, o prefeito eleito criou uma ficção.

“É um aviso claro aos pichadores. Ou mudem de profissão ou se tornem artistas. Venham participar do programa Arte Urbana, coordenado pelo Eduardo Kobra, que já foi pichador, se tornou grafiteiro e hoje é um dos maiores muralistas do mundo”, afirmou.

Kobra foi ouvido e desmentiu tudo.

Deixou claro, primeiro, que defende todas as formas de expressão. “Eu não tenho nenhum tipo de associação realmente, mesmo porque daqui a três meses eu estou indo pra Nova York”, disse ao Bom Dia São Paulo.

“Eu vou pintar uma sequência de 28 murais lá. Devo ficar até novembro. Então eu não teria nem condições aptas, físicas para poder responder a essa demanda”.

À Folha, reforçou que “jamais vou me envolver com algo que seja contrário a qualquer manifestação de arte na rua. Não tenho nada a ver com isso, senão estaria indo completamente contra as minhas origens.”

Mais tarde, Doria tentou consertar a presepada alegando que o artista seria, na verdade, curador, com “sugestões à distância”. O que não vai ocorrer tampouco.

Doria deu um exemplo claro de seu estilo de atirar primeiro e perguntar depois. Ficou evidente, de quebra, que é mal assessorado. JD é um cashmere embalado no antipetismo e na antipolítica. Sujeito é “gestor”.

Adota medidas demagógicas como aumentar a velocidade das marginais, mesmo sabendo que vidas foram salvas, ou apesar disso, e, sobretudo, faz ilusionismo num nível houdini.

Kobra não tem nada a ver com o que Doria representa e ele. Hoje pinta painéis na França, Estados Unidos, Reino Unido, Canada, Rússia, Grécia, Itália, Suécia, Polônia e Suíça, mas sua história começou no Campo Limpo, um dos lugares mais pobres da cidade.

Os paulistanos terão de conviver com um alcaide tão narcisista e sem noção que se apropria do nome de alguém que claramente não conhece para vender seus sabonetes aos trouxas. O vexame público poderia ser didático, mas ele não tem freios.

E isso porque não assumiu o cargo ainda.

Kiko Nogueira

Diretor do Diário do Centro do Mundo. Jornalista e músico. Foi fundador e diretor de redação da Revista Alfa; editor da Veja São Paulo; diretor de redação da Viagem e Turismo e do Guia Quatro Rodas.

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Kiko Nogueira

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