Doria, o Bolsonaro de banho tomado, já fala como candidato a presidente

Atualizado em 1 de junho de 2019 às 9:49
João Doria, com Serra e Bruno Araújo

Na convenção em que impôs os novos dirigentes do PSDB, João Doria foi recebido aos gritos de “Brasil pra frente, Doria presidente”.

Claro que não foi uma manifestação espontânea. Faz parte do roteiro para colocar a candidatura do governador de São Paulo na praça.

Logo depois, ele deu entrevista ao Correio Braziliense, em que criticou Bolsonaro, de forma velada, adversário dele no campo da direita e extrema direita.

Como fez na prefeitura de São Paulo, Doria atua de olho na presidência da República e procura mostrar as suas diferenças em relação a Bolsonaro.

Ao ser perguntado sobre a gestão de Abraham Weintraub no Ministério da Educação, respondeu:

“Prefiro falar das coisas boas”.

Leia alguns trechos da entrevista:

Quem é o maior inimigo hoje do governo Bolsonaro?

O maior inimigo do governo Bolsonaro são os aliados de Bolsonaro. O maior adversário são os aliados que produzem tanta confusão, tantos confrontos desnecessários. Isso retarda processos; cria situações; provoca divisões; afasta o governo do seu foco primordial, que é a reforma da Previdência; estabelece uma pauta negativa, que não é a verdadeira do presidente Bolsonaro, de uma relação distante e conflituosa com o Legislativo e com o Judiciário. Ele não tem conflito com o ministro Dias Toffoli (presidente do STF), com o Rodrigo Maia, com o Davi Alcolumbre (presidente do Senado, democrata do Amapá). Mas o entorno é de uma capacidade de gerar adversidades que retarda processos e cria irritações desnecessárias.

Estamos falando de quem? Dos filhos?

Prefiro não mergulhar nesse tema. Entenda por aliados os aliados.

Alguém pode achar que é o Centrão…

Não, não. Os aliados mais próximos, que, a meu ver, deveriam ser mais solidários com o governo Bolsonaro, produzindo menos antagonismos, menos opiniões polêmicas. Sendo solidários com o presidente e com sua missão de governar o Brasil.

O senhor vai cobrir nas universidades de São Paulo os recursos federais que foram cortados?

Os recursos das universidades são estaduais, vêm do orçamento, 1% do ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços). As universidades paulistas não têm recursos federais. Pode ser que alguns programas de pesquisa envolvam ação conjunta, mas não se anunciam cortes. Educação não é prioridade só de discurso. É prioridade de ação em São Paulo. Lá não tem corte nenhum em Educação: nem no ensino fundamental nem no ensino básico nem no infantil. Tampouco no ensino técnico, nós valorizamos muito o ensino técnico. É prioridade do nosso governo as ETecs (Escolas Técnicas) e Fatecs (Faculdades de Tecnologia). No plano das universidades, o recurso está garantido constitucionalmente. Está na Constituição do estado. O que temos orientado os reitores é que fiquem atentos, do ponto de vista do manejo dos seus orçamentos, porque, se a economia não se recuperar, isso pode afetar um pouco o total de arrecadação destinado para as universidades. Eles têm de ter cuidado, trabalhar com provisão e margem de reserva. É a boa gestão. De maneira geral, não tem tido nenhum tipo de dificuldade. Eles têm compreendido bem.

Como o senhor avalia a gestão federal da Educação?

Vamos pular essa pergunta. Prefiro falar das coisas boas.

Ele também posicionou o trator contra os setores do PSDB que tentam manter o partido minimamente leal ao projeto idealizado na sua fundação, principalmente por Franco Montoro e Mário Covas.

“Eu me refiro ao fato de que o PSDB, nesta nova etapa, será um partido de centro, focado na economia liberal, mas aceitando a pluralidade da vida dos costumes das pessoas. Um partido que vai se posicionar distante da extrema direita e da extrema esquerda, mas dialogando com a esquerda e com a direita. Não fará sentido ter movimento Esquerda para Valer dentro do PSDB. Mesma coisa que colocar direita para valer. É um equívoco. Tem um movimento Esquerda para Valer, e nossa posição é que eles saiam. Se não saírem, serão saídos”, disse.