Doria sai de cena e Aécio defende candidatura própria para o PSDB. A dele? Por Denise Assis

Atualizado em 24 de maio de 2022 às 12:10
Aécio Neves pode ser vice de Tebet
Aécio Neves
Foto: Reprodução

Por Denise Assis

O tucano João Doria não é mais candidato. Inevitável um retrospecto. Onde a coisa emperrou? O PSDB nasceu da costela do PMDB, no final dos trabalhos da Constituinte, que nos legou a Constituição de 1988. Surgiu como uma opção de centro-esquerda, para equilibrar um jogo político contaminado pelo coronelismo regional (SP) de Orestes Quércia (PMDB), com nomes simpáticos à política brasileira, tais como Mário Covas, um democrata, e Fernando Henrique Cardoso. Este, por muitos anos o presidente do partido, um intelectual bon vivant, que se um dia foi curioso quanto às lutas do ABC, dali por diante caminhou com os princípios liberais debaixo do braço, rumo à direita mercantilista e, tal como cantou Carmem Miranda, ele poderia batucar: “disseram que eu voltei americanizado”.

Há quem diga que aquela chamada ao DOPS para depor durante os anos trevosos da ditadura, o levaram a um acordo tácito, o de sair do país e não se envolver mais em polêmicas da esquerda. Como nunca veio a público um documento que corrobore a versão, e se foi um acordo “de boca”, segue a dúvida.

Nas eleições dos tucanos José Serra e Aécio Neves, FH foi deixado sob o tapete, para não atrapalhar o desempenho dos candidatos. A crise energética que gerou os “apagões”, principal marca do seu segundo governo, ainda estava muito viva na memória do eleitor médio, bem como a crise antecipada, visando desmoralizar a eleição de Lula, a do “risco Brasil”, um tiro pela culatra. A tal ponto que os investidores bateram em retirada do país precocemente, levando a uma derrocada econômica que ele mau conseguiu segurar até a passagem da faixa.

Seguia o partido em sua plenitude, todos devidamente acomodados em cima do muro – imagem colada indelevelmente ao partido, a de posições vacilantes, dúbias, hesitantes – até que a derrota de Aécio Neves para Dilma Rousseff, em 2014, “radicalizou” (quem diria!) o ninho tucano. O jatinho que aportou em Belo Horizonte levando o patrono Fernando Henrique e celebridades tais como Luciano Huck, para comemorar a vitória teve de dar meia volta, retornando a São Paulo sem o espocar do champanhe, que esquentou nos baldes de gelo derretido. Não havia o que comemorar. Apenas ressentimento e o sabor amargo da derrota. Queriam a contagem dos votos. Felicitações elegantes pela vitória à Dilma, nem pensar. Foram para o tudo ou nada.

No “bunda lelê” em que se transformou a política, mexida que foi pela birra do garoto frustrado com a derrota, o PSDB passou a se mover numa única direção: tirar Dilma do governo. A pauta mobilizou todas as energias do partido, que perdeu qualquer outro discurso no cenário político.

Neste ínterim, o derrotado Aécio Neves surgiu nos processos da Lava-Jato como alguém com relações promíscuas com um senador suspeito, com o qual combinou – em gravação trazida a público -, matar o primo, se preciso fosse, para tirar do caminho todos os que pudessem prejudicá-lo politicamente.

Péssimo em suas avaliações, não dimensionou que o principal prejudicado do seu jogo pesado era ele próprio e o PSDB, onde despontava a figura de João Doria – rival do seu grupo – e apadrinhado por um quadro histórico, Geraldo Alkimin. Foi neste trecho da ópera que Doria deixou no meio político uma nódoa insuperável: traidor.

Mal despontou para o sucesso, vencendo as eleições para a prefeitura da capital paulista e depois para o governo, e traiu o padrinho, indo se unir a Bolsonaro, que no rescaldo do impeachment de Dilma, (uma vitória de Pirro do PSDB), chegava com tudo à presidência. Mas, como paixões arrebatadoras não costumam virar amor verdadeiro, logo trombou com o presidente, ao ambicionar a sua cadeira.

Abandonou seu novo aliado e foi abandonado por toda a sua base, ganhando o epíteto de “calça apertada”. Foi salvo e sustentado um tempo por seu louvável esforço para produzir uma vacina nacional que freasse o negacionismo mortal de Bolsonaro. Surfou um tempo nesta onda, até que Eduardo Leite, o jovem governador do Sul, resolveu chamá-lo para dançar, disputando o mesmo desejo, o posto de candidato em 2022. Mediram forças numa prévia que custou R$ 12 milhões aos cofres públicos.

O partido, no entanto, parece ter gostado do jogo golpista e ignorou o resultado, mantendo Eduardo Leite, o novilho, na disputa. Leite perdeu e retornou ao Sul, ficando sem jogar, nesta rodada de 2022.

Bruno Araújo, um cristão novo, mas com o cargo de presidente do partido – ironicamente, uma cria de Doria -, estrangulou a sua candidatura. A volta do cipó de aroeira… Ao jogar a toalha, Doria disse em seu discurso se arrepender de “erros”. Talvez falasse para Araújo, a quem deu a mão, e a Rodrigo Garcia, outro afilhado guindado ao cargo por suas mãos. “Me retiro da disputa com o coração ferido e a alma leve. Com a sensação inequívoca do dever cumprido e missão bem realizada”. O discurso foi pronunciado com Bruno Araújo no centro da cena, bafejando em seu cangote, parecendo apressá-lo.

Na ponta do palco, quase caindo das eventuais fotos, um Fernando Henrique tentando ser discreto, depois de ter defendido arduamente a candidatura Doria. Perdeu. A saída de Doria significa também a redução do peso de Fernando Henrique na política, e a pulverização de um partido que já impôs ao país uma política econômica selvagem e desigual. É o fim da candidatura Doria. É a ascensão de Simone Tebet, um quadro desconhecido de um MDB dividido e com chance zero de chegar lá. E Aécio Neves, com sua cegueira política, mais uma vez, entra na hora errada, no lugar errado. Defende uma candidatura própria do PSDB. A dele, certamente… É preciso diminuir as “doses” desse senhor.

Originalmente publicado em Jornalistas pela Democracia

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